Há certas personagens que têm um desempenho melhor em papel secundário. Exemplo disso no mundo da animação é o Willoughby da Walter Lantz Productions. O homenzinho ganha a sua própria série de curtas a partir de 1961, período em que há a interessante iniciativa do estúdio norte-americano de afirmar o seu próprio universo farsesco em diferentes séries — disputando com a Hanna-Barbera o posto de terceiro lugar num país que tem as gigantes Warner e Disney. Por outro lado, é justamente nessa época que já há um processo de decadência na qualidade dos desenhos da turma do Woody Woodpecker.
Com efeito, é significativo que se pode detectar as origens esboçadas do personagem num personagem anterior do estúdio: Hercules, um pequeno trabalhador que estrelou Plumber of Seville e The Goofy Gardener, dois curtas estupendos dirigidos por Alexy Lovy em 1957. No ano seguinte, Paul J. Smith usa a essência desse personagem (baixinho, bigodudo, olhos caídos, lacônico e servidor empenhado) e o redesenha como um coadjuvante muito bem encaixado na fase intermediária da qualidade desse universo. Além de aparecer junto ao próprio Woody (por exemplo, como árbitro de beisebol no memorável Kiddie League, 1959), foi escada para três ursos: Windy e Breezy (estreando como segurança de fábrica em Salmon Yeggs, 1958, e, em outra ocasião, numa versão bizarra de abelha) e Fatso (quando o diretor Jack Hannah lhe pega emprestado para ser um guarda florestal por duas vezes).
Willoughby surge como inspetor em Rough and Tumbleweed (1961) que, apesar de ser uma farsa de faroeste, já indica que essa série irá parodiar as ficções de mistério e, em particular, refletindo a onda crescente de ficção de espionagem. Qual a função exata desse inspetor nós não sabemos e nem o narrador em off parece ter nitidez: detetive, espião, criminalista... Bom, também conhecido como Agente 6 7/8, ele é um apanhado de coisas que indica a lei e a ordem combatendo o crime. Esse Droopy humanoide (lembra o personagem de Tex Avery) é o elemento perseguidor e imbatível, pronto para dar golpes de judô em vilões com o dobro de sua estatura. Aliás, variar o tamanho do mesmo personagem num mesmo desenho é uma das indicações do desleixo avançando no estúdio.
Diferente do reflexo cotidiano da série The Beary Family (1962-72) ou do tom lúmpen de Chilly Willy (1953-72), Inspector Willoughby tem pouco a oferecer no seu conteúdo domador e na sua forma de ritual de perseguição. Nesse sentido, entre os dez episódios, há uma tentativa de variação temática, mas que significa, no fim das contas, somente uma diferenciação de pano de fundo para o mesmo padrão. Por isso, a rápida volta ao mundo (passando por Tibete, Egito, Inglaterra...) em Case of the Cold Storage Yegg (1963) já sintetiza e esgota o formato. Antes de se aposentar em 1965, Willoughby terá como aspecto mais funcional a propaganda de seu universo. Referências ao Woody aparece em alguns curtas de Inspector Willoughby. Sobra, então, uma estranha posição coadjuvante para o servidor, distinta da antecedente (1958-61).
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