The SpongeBob SquarePants Movie
(farsa,
USA, 2004),
de Stephen Hillenburg.
SpongeBob SquarePants [1999–] é, certamente, o melhor exemplar contemporâneo da animação televisiva a trabalhar o nonsense e a explorar os jogos mecânicos e a plasticidade de seus personagens na construção de um estatuto narrativo que se equilibra com talento entre um niilismo adocicado e um romantismo crítico. Um certo dom para o mau-comportamento e uma ode à idiotia como objeto de desvio do óbvio aparecem na série da TV e nesse longa-metragem como eixos discursivos de um universo de ideias que está longe de se resolver sobre a mera estética do precário e do vazio, que toma conta de toda uma linhagem de animações na TV a cabo contemporânea.
Elogio rasgado à juventude e à coragem, o longa-metragem ganha ao conseguir levar à grande tela o mesmo espírito de anarquia involuntária que Bob Esponja e seu amigo Patrick conseguem instaurar em uma vizinhança talhada para ser pacata e coordenada por hábitos “adultos”. O erro em The SpongeBob SquarePants Movie aparece sempre como elemento antes do inesperado do que do falso, apostando em uma trama que deixa de lado o bom-gosto e os limites, conseguindo graça em piadas superexploradas e reflexão de linguagem ao ultrapassar a comicidade em direção a um comentário crítico sobre a própria constituição do elemento cômico. Uma filiação entre o trabalho de The SpongeBob SquarePants Movie e o tipo de universo construído pelos irmãos Farrelly no cinema “adulto” não é pequena, sendo cabível dizer que a esponja e a estrela, aqui, encarnam espíritos similares aos das duplas típicas dos filmes talhados pelos cineastas — sendo ambos donos de um vigor que ganha ao ignorar o bom senso, ao explorar o mau gosto como forma de contornar o já-visto.
É certo que a narrativa alongada por vezes se torna repetitiva, e que Bob Esponja é mesmo um ser nascido para curtas-metragens lacônicos, mas essa chegada ao cinema não chega a sujar o trajeto do personagem. Uma pena é que figuras geniais como Lula Molusco e Sandy tenham sido deixados de lado em prol de uma trama de road movie que leva seus protagonistas para além do território comum à série. (Pecado maior ainda é a opção de deixar o tema musical “havaiano” de fora dos créditos finais do filme...)
Ainda assim, a loucura encarnada pelo personagem, mesclada a uma doçura que o distancia de qualquer emulação de um cinismo vazio, faz do filme um bem sucedido tentáculo desse que é um dos personagens infantojuvenis mais interessantes e complexos da TV nos últimos anos. The SpongeBob SquarePants Movie consegue costurar traços da melhor tradição averyana de animação charge com o caldo multirreferencial reflexivo, típico do audiovisual infantojuvenil das últimas décadas. No olhar patético de Bob Esponja está um convite eficaz e cativante para a crítica da linguagem cômica e para a celebração do absurdo como exercício do novo.
Felizes as “crianças”, os “jovens” e os “adultos” que possam ter contato com esse liquidificador ironicamente inconsequente. Uma alegria sem razão de ser e que ignora seus motivos em pequenos acidentes de transcendência.
Elogio rasgado à juventude e à coragem, o longa-metragem ganha ao conseguir levar à grande tela o mesmo espírito de anarquia involuntária que Bob Esponja e seu amigo Patrick conseguem instaurar em uma vizinhança talhada para ser pacata e coordenada por hábitos “adultos”. O erro em The SpongeBob SquarePants Movie aparece sempre como elemento antes do inesperado do que do falso, apostando em uma trama que deixa de lado o bom-gosto e os limites, conseguindo graça em piadas superexploradas e reflexão de linguagem ao ultrapassar a comicidade em direção a um comentário crítico sobre a própria constituição do elemento cômico. Uma filiação entre o trabalho de The SpongeBob SquarePants Movie e o tipo de universo construído pelos irmãos Farrelly no cinema “adulto” não é pequena, sendo cabível dizer que a esponja e a estrela, aqui, encarnam espíritos similares aos das duplas típicas dos filmes talhados pelos cineastas — sendo ambos donos de um vigor que ganha ao ignorar o bom senso, ao explorar o mau gosto como forma de contornar o já-visto.
É certo que a narrativa alongada por vezes se torna repetitiva, e que Bob Esponja é mesmo um ser nascido para curtas-metragens lacônicos, mas essa chegada ao cinema não chega a sujar o trajeto do personagem. Uma pena é que figuras geniais como Lula Molusco e Sandy tenham sido deixados de lado em prol de uma trama de road movie que leva seus protagonistas para além do território comum à série. (Pecado maior ainda é a opção de deixar o tema musical “havaiano” de fora dos créditos finais do filme...)
Ainda assim, a loucura encarnada pelo personagem, mesclada a uma doçura que o distancia de qualquer emulação de um cinismo vazio, faz do filme um bem sucedido tentáculo desse que é um dos personagens infantojuvenis mais interessantes e complexos da TV nos últimos anos. The SpongeBob SquarePants Movie consegue costurar traços da melhor tradição averyana de animação charge com o caldo multirreferencial reflexivo, típico do audiovisual infantojuvenil das últimas décadas. No olhar patético de Bob Esponja está um convite eficaz e cativante para a crítica da linguagem cômica e para a celebração do absurdo como exercício do novo.
Felizes as “crianças”, os “jovens” e os “adultos” que possam ter contato com esse liquidificador ironicamente inconsequente. Uma alegria sem razão de ser e que ignora seus motivos em pequenos acidentes de transcendência.
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