quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Prostituição realista

 Frankenhooker 
 
(farsa,
USA, 1990),
de Frank Henenlotter.
 

 
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por Olivier Bitoun
DVDClassik/2016
 
Frank Henenlotter estava constantemente matando aula em seu colégio em Long Island para viajar de trem para Nova York, rumo à 42nd Street. Um bairro formado por sex shops, bares, casas de jogos e peep shows. Mas se o jovem Henenlotter vagava por este lugar infame, não era para ser criticado, mas para devorar os incontáveis ​​exploitation films exibidos sem parar nos cinemas do bairro. Certamente é assim que, para ele, o prazer proporcionado pelo cinema se encontra ligado ao ambiente desta sombria sociedade noturna, que opera em torno do underground e do comércio do sexo, um ambiente tão sombrio como alegre. O que nos leva diretamente a este Frankenhooker.
 
Henenlotter nos convida, ao lado de sua moderna criatura Frankenstein (excelentemente interpretada por Patty Mullen, uma playmate da Penthouse), a explorar um quart-monde devastado por drogas e miséria. Se encontrarmos esse desejo do cineasta de filmar os submundos, ele o faz em um tom muito mais burlesco do que em seus dois longas anteriores, Basket Case [1982] e Brain Damage [1988]. Após a abertura, Henenlotter visa o american way of life (uma festa de aniversário organizada que vira gore quando o cortador decepa a esposa de Jeffrey em pedacinhos) antes de se envolver em uma sátira do culto à beleza e numa denúncia da mercantilização dos corpos, ao mesmo tempo em que oferece uma pintura nua e crua desses bairros onde de alguma forma sobrevivem os esquecidos do sonho americano.
 
Mas esse aspecto crítico em grande parte dá lugar aos delírios horríveis e loucos do cineasta. Henenlotter multiplica assim as ideias do lixo cômico: Jeffrey que estimula seu cérebro com golpes de furadeira elétrica, seu animal doméstico passa a ser um cérebro dotado de um olho, as explosões cultuáveis de prostitutas que ingerem “super-crack”, o cara atacado por amálgamas de membros libidinosos... Tantas cenas que são completamente de cartoon e que nos lembram que, de Evil Dead [1981] a Re-Animator [1985], o cinema gore sempre esteve mais perto dos delírios de um Chuck Jones do que do cinema de terror tradicional.

Mas esse aspecto grand-guignolesque não mascara o fato de Frankenhooker ser um filme em que Henenlotter se coloca muito. Ele filma com muita sensibilidade este mundo da Rua 42 em que cresceu e cuja vida selvagem ama tanto. E sua história de prostitutas não deixa de ecoar seu próprio caminho no mundo do cinema. De fato, para poder rodar este filme que está tão perto de seu coração, ele concorda em dirigir duas sequências de Basket Case em nome de James Glickenhaus, que espera tirar vantagem do culto em torno da primeira obra para rodar na máquina caça-níqueis. Uma concessão ao sistema que lhe permite assinar este filme de forma pessoal, mas que o deixa amargurado e o obrigará a desistir do cinema durante dezesseis anos. Henenlotter, no entanto, provou com este Frankenhooker que não havia perdido nada de sua força subversiva e sua sincera empatia pelo quart-monde, combinando brilhantemente a atmosfera subterrânea e opressiva de Basket Case e Brain Damage em um tom cartunesco particularmente agradável.
 
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[0] Tradução de Paulo Ayres.
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