(farsa,
BRA, 1983),
de Antonio Rangel.
por Paulo Ayres
O título do filme O Trapalhão na Arca de Noé revela e esconde o que essa farsa significa. Primeiramente, “trapalhão”, assim no singular, indica que Renato Aragão está sozinho na empreitada. Os Trapalhões romperam por um breve período e os outros três fizeram um filme próprio na época: Atrapalhando a Suate (1983). Em segundo lugar, o nome do filme é quase uma falsa propaganda. Não é nem uma paródia da história bíblica e nem sabemos onde está a tal arca no desenrolar da trama boba. Uma versão moderna da dita cuja só aparece no final, com uma participação da Xuxa (Meneghel), antecipando a associação da sua imagem futura com a causa ambiental, embora não passe de uma modelo calada aqui.
É nesse ponto de mensagem ecológica que a sátira edificante se esforça para dar sentido a sua existência confusa. Há uma rinha de galos, no início, que foi representada de verdade. Estranho; mesmo que o advogado da obra possa dizer que foi uma exceção como veículo de denúncia e a sequência termine de forma bem criativa: as aves assistindo a uma rinha de gente. Afinal, o tom excessivo de panfleto infantil se mantém em meio às imagens do Pantanal e um merchandising de hotel pousada. Tirando a rinha e a esforçada cena da perseguição de carros — também lá no início —, não há criatividade na narrativa e na resolução dos problemas do enredo, que envolve a costumeira porrada circense. Isso, aliás, só sublinha certa ideologia romântica que critica o capitalismo rejeitando a humanidade contemporânea enquanto civilização. O desfecho esotérico faz esse discurso com todas as letras no projeto de selecionar pessoas e povoar outro mundo.
Enquanto isso, Sérgio Mallandro (com uma macaca) é uma tentativa vã de juntar num só sujeito o trio de escadas habituais que Aragão usa. Resta como curiosidade o dinossauro Papangu (e seu filhote), por ser uma grande tosquice. Dois bonecos que representam o grau de vitalidade dessa farsa física e a artificialidade da preocupação ambiental do greenwashing.
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