(farsa,
BRA, 1959)
de J. B. Tanko.
por Paulo Ayres
A fórmula se repete e Entrei de Gaiato faz do requintado Hotel Palácio um palco daquilo que já se viu antes, em outros exemplares da Chanchada. Um plano de trapaceiros, os números musicais, os bandidos que representam a malandragem vilanizada, a polícia investigando, os disfarces, os clichês etc. Todavia, a presença de Dercy Gonçalves, como Ananásia, acrescenta um contraste feminino ao quarteto masculino de malandragem liderado por Januário Joboatão (Zé Trindade). É um polo do enredo que, coestrelando a farsa, traz uma ampliação das visões sobre golpes e, além disso, cria uma pequena ruptura com a dose de machismo que costuma existir nessa expressão humorística. Não que haja algum tipo de tratamento direto do assunto ou uma subversão positiva de expectativas e de estereótipos. O ponto é que a interesseira “gente boa” e sua sobrinha surgem como um pequeno núcleo que somente faz uma versão feminina do que o masculino representa — inclusive Dercy está ali para rebater as piadas sobre mulheres, ironizando também os homens. Em suma, essa sátira edificante de J. B. Tanko tem um quê de feminismo, discreto e marginal, mesmo havendo um plano de fingir ter bastante dinheiro para conseguir um marido rico naquele ambiente.
A vigarice de Januário, por sua vez, consiste em se passar por um rico fazendeiro de cacau, visando enganar hóspedes. Ele e Ananásia enganam um ao outro e o resultado é um golpe nulo. Negativo com negativo. Entrei de Gaiato, desse modo, é um filme que introduz um ingrediente de par amoroso de maneira cínica e equilibrada na caracterização dos dois protagonistas. Se tudo acaba entrando nos eixos na reta final, isso não altera esse elemento que cria uma contradição dinâmica com dois sujeitos de força equivalente. Na última parte dessa comédia pastelão, aliás, a cobiça pelas joias de um paxá do Sudão gera um tipo de esquete de ambientação árabe para o casal farsesco interagir. Há também as participações especiais de Grande Otelo, cantando travestido de mulher, e Moacyr Franco cantando a famosa marchinha “Me Dá Um Dinheiro Aí”, indicando que Entrei de Gaiato é uma farsa carnavalesca que se interessa em vestir e despir fantasias.
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