domingo, 17 de janeiro de 2021

Recuperação

Summer School
 
(comédia,
USA, 1987),
de Carl Reiner.
 

 

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por Rita Kempley
The Washington Post/1987

Quando Cybill Shepherd abandonou Mark Harmon em um episódio recente de Moonlighting [1985-9], mulheres de pensamento correto em todo o mundo ficaram chocadas e horrorizadas. Felizmente, a ex-estrela de St. Elsewhere [1982-8] e impulsionador da cerveja Coors está se recuperando como um genial professor de educação física numa comédia desaforada voltada para o público Clearasil [pomada para acne].

Harmon como Freddy Shoop é o Sr. Kotter, hanging 10, no set-Califórnia em Summer School de Carl Reiner, uma ooh-tão-grosseira, traquinagem, de kids maravilhosamente bobos, cheia de insolência secundarista, paródia de terror e o velho standby — piadas de vômito.

Reiner está dando uma lição sobre como os californianos do sul ficaram assim com esta fábula screwball da selva das bolas de praia. Aqui o protetor solar e o pó de giz se misturam, e os kids com cérebros de pranchas de isopor destroem pronomes.

Mentes lentas em Ridgemont High.

Mas a ajuda chega na forma de Harmon, o “homem vivo mais sexy” da revista People de 1986, que encontra seu eu mais profundo à frente dessa classe de remediados turbulentos — disléxicos danificados pelo sol, matadores de aula, strippers sonolentos e jogadores de bola idiotas. Naturalmente, todos eles estão cheios de potencial oculto que só pode ser explorado por simpáticos professores escolares como Kotter, Sir ou, neste caso, Freddy Shoop.

Harmon, com sua aparência destruidora de corações e um timing cômico surpreendentemente seguro, está irresistível como Shoop, um pateta no mesmo nível de seus resultados abaixo do esperado. Um homem que pareceria natural com um bigode de leite, ele é astutamente elencado como um educador imaturo que preferia estar na praia com seu cachorro Supermutt. Infelizmente, seus sonhos de férias havaianas se tornam muito poi quando ele é marcado para ensinar inglês estúpido ou perder o emprego.

O aluno estrela é Dean Cameron, fazendo sua participação frenética como Francis (Chainsaw) Gremp, um fã de filmes slasher que disse ter o “QI de um bufê de saladas". Com a ajuda de seu melhor amigo (Gary Riley), um verdadeiro gêmeo siamês, Chainsaw encena o ataque dos coelhos carnívoros e o memorável massacre em sala de aula do filme. (Sangue e tripas cortesia do prodígio de látex Rick Baker, que criou a cena do bar em Star Wars [1977].)

O zeloso Cameron parece fadado a aparecer em seguida como um sidekick num filme de John Hughes, embora suas aspirações aqui não sejam nem de longe tão visionárias quanto as dos kids de Hughes. Summer School tem orgulho de ser junk food, mas ainda aborda os assuntos sérios do analfabetismo, gravidez na adolescência e alcoolismo entre jovens adultos. No entanto, o roiteirista Jeff Franklin nunca prega; ele expõe seus pontos de maneira indolor. “Fato: o álcool mata as células cerebrais”, diz Shoop a um Chainsaw alcoolizado. “Você perde mais uma, você é um macaco falante”.

Envolvido na tarefa e motivado por uma bela professora de história (Kirstie Alley), Shoop descobre que está amadurecendo para um ótimo professor, colocando o interesse próprio de lado e inspirando seus kids a acreditarem em si mesmos. Agora os adolescentes se dedicam a seus livros didáticos, mastigam seus lápis e se comportam como aspirantes a Harvard fazendo seus SATs [exames de admissão universitária]. Summer School sabiamente resiste a um final de conto de fadas quando alguns não conseguem passar de ano. Mas a moral é doce: se você tentar, nunca falhará. O mundo está avaliado numa curva.

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[0] Tradução de Paulo Ayres.
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