Il colosso di Rodi é o primeiro filme oficial de Sergio Leone e sua segunda incursão no peplum após Gli ultimi giorni di Pompei [1959], codirigido com Mario Bonnard. Ele então construiu uma sólida carreira como assistente de direção na época, já que quase não oficialmente assinou certos filmes nesta posição quando o diretor oficial se mostrou incompetente ou totalmente desinteressado, como Robert Aldrich no vale da onda, vindo em turismo assinar Sodom and Gomorrah [1962] (Leone contará várias vezes sua decepção com o descuido do mestre americano). Ainda não sendo o mestre absoluto do ritmo que se tornaria, Leone oferece uma narrativa um tanto desequilibrada, onde uma primeira metade muito lenta se transforma numa overdose de fragmentos de bravura em seguida. Malgrado quaisquer escórias, portanto, o filme carrega consigo todos os elementos que farão o tempero e a grandeza das obras-primas que virão.
Em um quadro peplum bastante clássico à primeira vista, o talento de Leone na desconstrução de gêneros já está fazendo maravilhas. Como sabemos, Leone tinha um horror sagrado do peplum que vivia o seu apogeu a invadir os ecrãs italianos e o realizador só concordou em dirigir um para que finalmente pudesse assinar o seu primeiro filme. Il colosso di Rodi é, portanto, recheado de entorses do gênero mais ou menos discretas que o tornam um peplum atípico. Longe dos musculosos que habitam o peplum italiano, o herói encarnado por Rory Calhoun, embora rodeado por uma formidável aura de guerreiro, é um almofadinha constantemente manipulado por mulheres e as ações mais heroicas do filme não são obra dele (o soldado lançando ao leão da arena, a morte do vilão). Ele, assim, pavimentou o caminho a Duccio Tessari para o herói doentio mas inteligente de Arrivano i titani [1962] no ano seguinte, mesmo que este último, por trás do humor, mantenha uma crença em sua narrativa ausente aqui. O enredo denota com suas tramas e suas reviravoltas incongruentes, seja em termos de personagens ou eventos (o terremoto final), que são puramente seriais e sublinham a ironia e o distanciamento que Leone mantém com o gênero. Certos deslizes de violência e sadismo também se assentam na delirante história em quadrinhos, com suas cenas de tortura particularmente inventivas e cruéis: gotas de ácido caindo na pele nua de prisioneiros amarrados, um homem ensurdecido dentro de um sino, catapultas lançando chumbo derretido...
Os recursos alocados são realmente enormes, e a mise en scène de Leone está em sintonia com uma série de momentos espetaculares, como Dario enfrentando uma multidão de agressores no topo do Colosso ou a impressionante catástrofe natural final, grande momento de destruição culminando com a queda do Colosso no mar. Esta lacuna entre o excesso visual e a narrativa distanciada e frouxa pode atrapalhar, mas funciona do início ao fim, anunciando de forma mais grosseira as diferenças de tom da Trilogia del dollaro [1964-6]. O verdadeiro fascínio sentido na ilustração do gigantismo daquela que foi a Sétima Maravilha do mundo disputa com o relaxamento de intrigas mais humanas. Não nos surpreenderemos com o casting desigual, onde para um Rory Calhoun um pouco brando como herói, apreciaremos Georges Marchal pela presença carismática em Peliocle. A dupla de vilões é excelente, por outro lado, com Conrado Saint Martin como um tirano manipulador e a linda Léa Massari interpretando a personagem mais ambígua da trama. O filme encontrará um grande sucesso, o que dará rédeas soltas [les coudées franches] a Leone para iniciar uma revolução arriscada, mas muito lucrativa, o spaghetti western...
= = =[0] Tradução de Paulo Ayres.
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