sexta-feira, 3 de março de 2023

Interruptor moral

Hot Bot 
 
(comédia,
USA, 2016),
de Michael Polish.
 


por Paulo Ayres

Se as ficções científicas sobre robôs e inteligências artificiais são uma fonte para tratar de questões sobre a humanização e a coisificação, Hot Bot é um prato cheio para abordar essa temática no âmbito da chamada indústria do sexo e da prostituição oficial. É uma pena, portanto, que seja uma comédia limitada, alternando o seu funcionamento de um modo metafísico, isto é, antidialético. A dualidade soa como um botão liga/desliga.
 
Mesmo sendo uma sátira edificante, Hot Bot é uma techno-comedy sem receio de contrastar a tendência poliamorosa com uma família cristã. Essa contradição se desenvolve na sequência da casinha de quintal, como se gerasse um software bíblico. Num tom intermediário, o filme busca a conciliação familista na vida do adolescente Limus (Doug Haley), operário culinário de uma lanchonete junto com seu amigo Leonard (Zack Pearlman). Desse modo, o movimento narrativo desperdiça o comentário crítico sobre a hipocrisia familiar e a mercantilização do sexo, em expressões que vão do lar suburbano até os bastidores da política institucional (o senador Biter, feito por Larry Miller, é um vilão desfocado no roteiro de apelo teen). Com efeito, Bardot (Cynthia Kirchner), a robô prostituta de luxo, termina por preencher, provisoriamente, as funções de mocinha e de sensei de jornada juvenil (especialista em relações afetivas). Como se fosse um programa que limita a representação das mediações alienadas. E é por ter tanto potencial para a satirização e oferecer pouco que o filme parece um clickbait.

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Lista de sci-fi comedy no subgênero techno-fiction:
[0] Primeiro tratamento: 12/05/2021.
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