terça-feira, 28 de março de 2023

Quadro interativo

Looney Tunes:
Back in Action

(farsa,
USA, 2003),
de Joe Dante.



= = =
por Filipe Furtado

Há duas formas de se observar o projeto de Joe Dante com Looney Tunes: Back in Action, e em ambas o cineasta é muito bem sucedido. Primeiro, temos uma afetuosa homenagem aos elementos do imaginário cultural americano do pós-guerra que marcaram a infância do diretor. Em especial os desenhos da Warner — mas não só eles —, aqui ressuscitados. Estas animações serviram de inspiração para o diretor na maior parte dos seus filmes; aqui, elas assumem o primeiro plano.

A Warner se mostrou bastante feliz em optar por Dante para conduzir o filme. Poucos outros cineastas teriam compreendido tão bem o universo destas personagens. Há algo de muito empolgante em Back in Action, na forma que ele reconstrói o mundo destes desenhos animados. A proximidade do diretor com seu material é tanta que na verdade o ponto de partida do filme — Patolino deixando a Warner por não aguentar mais servir de capacho para Pernalonga — é a mesma de uma pequena piada de Gremlins II [1990] (o filme de Dante que Back in Action mais se assemelha).

Em segundo lugar, estamos diante de um empolgante filme sobre representação. Back in Action parece ter sido feito nos fundos do estúdio da Warner, que serve de cenário para suas cenas iniciais. Todos os lugares para os quais a ação se desloca nunca existem pelo que são, mas por um filtro hollywoodiano que o altera. Não deixa de se ver o mundo como um grande clichê pausterizado (daí a trama sub-007 em que os personagens se envolvem, menos uma sátira e mais um acompanhamento adequado para o material do filme).

A cena chave do filme é a muito comentada sequência no Louvre, em que Patolino e Pernalonga são perseguidos por Hortelino através de vários quadros famosos. A maior parte das criticas menciona como nós ganhamos as versões de Dali, Seurat e Munch para Patolino e Pernalonga. De forma inversa, no entanto, nós também ganhamos as versões hollywoodianas de Seurat, Dali e Munch. Na Paris de Dante, o Louvre é vizinho da Torre Eiffel, e aparentemente há retrospectivas diárias de Jerry Lewis. O mesmo tipo de representação acontece com todas as locações do filme, à exceção de Las Vegas (talvez porque Dante considere que não haveria como alterar qualquer coisa lá).

Partindo disso, não chega a nos surpreender que o mundo do filme siga a lógica dos desenhos muito mais do que qualquer tentativa de manter uma aparência de realidade (o herói Brendan Fraser acaba enfrentando no clímax do filme um cachorro-robô gigante que parece saído de uma animação barata). O mundo hollywoodiano de Looney Tunes: Back in Action é ele próprio um grande cartoon, onde as personagens humanas são autômatos tão grandes que soam bem menos humanos do que os desenhos a sua volta. A anarquia deles nos é bem mais próxima.

E em que outro filme teríamos Patolino como herói?

= = =

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