sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Sátira atolada

Os Parças II
 
(farsa,
BRA, 2019),
de Cris D'Amato.
 

 

por Paulo Ayres

Por mais que muitos torçam o nariz, a experiência cinematográfica recente mais próxima do que representou os Trapalhões está no primeiro Os Parças (2017). E quando se diz isso está se considerando os próprios filmes do Renato Aragão após o fim do quarteto — neste período, a fórmula infantil de Aragão tende a produzir apenas sátiras edificantes de linhagem rebaixada. E é essa a linhagem de Os Parças II, ainda que o enredo tenha um apelo teen. A farsa física é sobre uma colônia de férias e, deste modo, o quarteto de malandros assume a função de monitoria de jovens, deslocando-se para uma posição de “babás”. Na superfície escandalosa, parece que estão coordenando o salvamento num iminente naufrágio ou num ataque de onça, mas apenas estão direcionando o seu repertório de caras e bocas para moralizar e servir de suporte juvenil. Há um banho de lama no sentido de emporcalhar a trama, mas, assim como há a faxina e a reforma do lugar velho, há um movimento predominante de revelar um mundo asséptico e publicitário.
 
E esse desvio ocorre justamente quando a identidade ficcional do quarteto ganha um contorno mais distinguível, graças, principalmente, ao Pilôra de Tirullipa, com sua performance e bordões, que gera até uma canção para o filme. Nesse sentido, é curioso que a diretora Cris D'Amato tenha lançado uma boa farsa no mesmo ano de 2019 — Sai de Baixo: O Filme (o roteiro de Miguel Falabella é uma estrutura mordaz e desenvolta, na medida do possível) —, enquanto em Os Parças II a cineasta está atolada nessa mesma lama romântica.
 
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[0] Primeiro tratamento: 16/04/2021.
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