por Paulo Ayres
Um ano após George Lucas lançar a sua peça icônica da cultura pop (1977) nos cinemas, os Trapalhões foram no vácuo, deixado pelos gringos, em busca também de uma grande bilheteria — no caso do quarteto brasileiro, ao menos nos números dentro do país. Os Trapalhões na Guerra dos Planetas, dependendo do ângulo que se vê, representou, na época, uma baita malandragem ou uma reles picaretagem.
A farsa física dirigida por Adriano Stuart é, sem dúvida, uma paródia estranha. Uma apropriação descarada de elementos do folhetim estadunidense. Há um Luke Skywalker chamado Príncipe Flink e o vilão Zurko é, praticamente, o Darth Vader com outro nome. Entretanto, se for para acusar de plágio é só pelo vestuário desses dois e o bioma do planeta, que lembra o deserto onde Skywalker cresceu. De resto, é estranho dizer que se trata de uma paródia, pois a proposta é fazer uma aventura genérica com a temática de mundo estranho.
O problema, diga-se de passagem, não é que Guerra dos Planetas seja uma paródia subdesenvolvida (nos sentidos de terceiro-mundista e de baixo orçamento) de Star Wars — afinal, o próprio Stuart dirigiu uma boa paródia farsesca de Jaws (1975) chamada Bacalhau (1975). A questão mesma é a falta de vontade em ir além da referência epidérmica; literalmente, roupagem, no sentido mais superficial. É claro que, também, poderia ser o caso de caprichar na criatividade de uma trama que quer se desprender do objeto parodiado. O que não acontece. Somente com A Princesa Xuxa e os Trapalhões (1989), mais de dez anos depois, a turma de Renato Aragão conseguiria fazer uma boa sátira edificante com um material de aventura planetária. Aqui, diferentemente, há uma totalidade formada pela variação mecânica num ciclo esquemático de rigidez narrativa, alternando cenas contemplativas de “ação” (perseguição e lutas) com cenas centradas em gags. Stuart, por sua vez, se redime no longa seguinte, Cinderelo Trapalhão (1979): aí sim, uma paródia interessante.
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