(tragédia,
BRA, 2017)
BRA, 2017)
de José Luiz Villamarim.
por Paulo Ayres
No giro fechado de Redemoinho, o trem continua passando na cidade de Cataguases, Minas Gerais. Não só isso tem a sua regularidade barulhenta no panorama urbano, como também as máquinas da fábrica têxtil continuam um movimento ininterrupto de produção material. Mesmo o enredo se passando no dia da Véspera de Natal, uma data diferente dos dias corriqueiros, a tragédia de José Luiz Villamarim acompanha um espaço filmado em clima de estagnação humana. Generalizado na figura de Gildo (Júlio Andrade), pois ele se tornou um outsider que vive com sua própria família em São Paulo e está de passagem. É um mundo rígido em causa e efeito, ainda que tenha uma capacidade notável de prender o espectador na contemplação audiovisual.
Hiper-realista, Redemoinho possui belos planos-sequências em grandes atuações que demandaram ensaios meticulosos. Entretanto, por vezes, é como se tivessem instalado câmeras escondidas no carro de Gildo e nas residências de Marta (Cássia Kis), Toninha (Dira Paes), entre outros lugares, como a ponte pesada. Símbolo do filme, a ponte tem seu papel de conexão geográfica reforçado numa metáfora de peso psicológico. A chuva surge em flashbacks do tempo em que uma brincadeira de futebol dos meninos terminou em fatalidade.
O roteiro de George Moura, baseado na obra de Luiz Rufatto, tem um desenvolvimento crescente enquanto descrições amarguradas e, nesse sentido, há um movimento determinista de abafamento cotidiano. O tour pela cidade pequena feito por Gildo e Luzimar (Irandhir Santos) é constantemente abastecido com álcool. Tal como o combustível homônimo, as doses de cerveja são o combustível para Gildo ir falando, falando... enquanto Luzimar é o guia introvertido de atualização sobre as transformações no local. Redemoinho começa de forma promissora como um reencontro de amigos que se tornaram "semiconhecidos". Logo, a casa pequena e a bicicleta na frente parecem cada vez menores e os sorrisos forçados de interação saem de carro pela cidade.
Um destaque entre as cenas longas sem cortes está na "escalação" em frente ao campinho de futebol. A imagem não sai de dentro do carro, observando a conversa que está na frente. Luzimar tenta se desvencilhar do falador inconveniente, mas Gildo busca o colega no meio dos jogadores e o carro segue até um bordel. O drama naturalista ainda encontra pretexto para retornar ao ambiente da fábrica. Outro símbolo do filme é a tecelagem e o registro continua com certo distanciamento, próximo do documentário de câmera fixa. As movimentações dos enquadramentos são poucas. A produção prossegue. A vida em cada casinha idem. No registro objetivista, até o trauma corporificado pode ser visto caminhando por Cataguases.
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