(comédia,
USA, 2016),
de Scott Wheeler.
por Paulo Ayres
O problema com Attack of the Killer Donuts não está nos ingredientes, mas no modo de preparo. Para simbolizar determinações da realidade objetiva, a ficção pode fazer uso de robôs, aliens, fantasmas, dinossauros ou, mesmo, criaturas bastante surreais, como os donuts vivos da sci-fi comedy de Scott Wheeler. A questão, então, é ver como será dosado os ingredientes e preparado o prato como uma totalidade singular e uma iguaria palatável. Attack of the Killer Donuts, nesse sentido, não sabe articular os seus predadores como alegoria, reduzindo-se a um exercício de sátira B (no sentido de baixo orçamento salientado pelos efeitos toscos de CGI) centrado na zoeira pela zoeira.
Antes das criaturas entrarem em cena, a lanchonete Dandy Donuts até reserva um bom espaço de observação do estranhamento cotidiano: atrás do balcão, com os amigos Johnny Wentworth (Justin Ray) e Michelle Kester (Kayla Compton) — dois operários culinários (e, também, servidores de atendimento) —, e na freguesia com, por exemplo, a senhora que borra as fronteiras entre a gula e a luxúria ou, ainda, uma dupla de policiais buscando rosquinhas grátis. Entretanto, a sátira edificante não consegue evidenciar os donuts animalescos (que até dirigem o carro da polícia...) como reflexo metafórico do fetiche de mercadoria, que ocorre sistematicamente no nosso mundo: os produtos se autonomizam e se voltam contra os produtores e o desenvolvimento da humanidade. Na cobertura romântica, há a punição gore dos bad kids (incluindo uma bad bitch) e o elogio açucarado do amor burguês. Fast food com a massa sem liga.
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Lista de sci-fi comedy no subgênero eco-fiction:
- Superfície específica
- Pilhagem pop
- Transporte niilista
- Mutação pontual
[0] Primeiro tratamento: 16/09/2021.
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