(tragédia,
BRA, 2015)
de Jorge Furtado.
por Paulo Ayres
Real Beleza é como se fosse ele próprio um grande ensaio — não no sentido de exploração teórica, mas no sentido de preparação estética, de rascunho que deixa um potencial em cada cena que soa como uma aproximação formal. Essa distância do objeto e do observador — na trama, o observador é o fotógrafo protagonista João (Vladimir Brichta) — é criada não só pelo excesso contemplativo, mas também porque a contemplação não incorpora o silêncio de forma precisa e Real Beleza é um drama edificante que abusa da declamação poética como conexão social. Simplicidade interiorana e elitismo intelectual.
Jorge Furtado é conhecido por incrementar os diálogos de seus dramas, mas em Real Beleza pesa um tom solene que não há em suas dramédias — Houve uma Vez Dois Verões (2002), O Homem Que Copiava (2003) e Meu Tio Matou um Cara (2004). Real Beleza é uma tragédia. E parece ser assim por certa incapacidade de desenvolver seu enredo em direções mais intensas. O humor é retraído, quase nulo. O jovem vizinho, meio estranho, parece que vai desencadear um tríler criminal, mas nada acontece. O foco dramático de Furtado é mesmo uma divagação com ares de filosofia especulativa. Real Beleza une beleza e conhecimento de forma artificial. Como no momento em que a adolescente Maria (Vitória Strada) está fazendo pose fotográfica com óculos e segurando um livro.
A beleza realista não se afirma em Real Beleza por um motivo irônico: tal como os ensaios fotográficos de obsessão fotogênica, a feiura real não entra de forma relevante nos enquadramentos e na própria narrativa. Por outro lado, esse caráter unilateral não tem nada a ver com o fato de ser sobre um processo de seleção de jovens modelos fotográficas brancas e sulistas, pois o filme utiliza um procedimento visto em Central do Brasil (1998) e lá são rostos das camadas populares que se alternam com uma música melancólica de fundo. A questão limitante mesmo é a romantização dos encontros e das despedidas.
Mas nem tudo é pose e afetação. João fica puto no início quando é chamado de decadente por uma modelo, mas é justamente ela, a decadência, que está nas entrelinhas do ritmo contido do filme. Não são as frases feitas e as referências literárias que aprofundam Real Beleza, mas certa decomposição sugerida que parece estar presente de forma implícita no panorama metafísico daquele ambiente rural. A cegueira literal de Pedro (Francisco Cuoco) diz mais do que filosofar sobre o belo ali, pois indica a transitoriedade de mediações, a vulnerabilidade da existência e a beleza dos gestos interpessoais e pacientes. O gesto de doação conjugal de Anita (Adriana Esteves) chama tanto a atenção quanto sua nudez frontal.
Jorge Furtado é conhecido por incrementar os diálogos de seus dramas, mas em Real Beleza pesa um tom solene que não há em suas dramédias — Houve uma Vez Dois Verões (2002), O Homem Que Copiava (2003) e Meu Tio Matou um Cara (2004). Real Beleza é uma tragédia. E parece ser assim por certa incapacidade de desenvolver seu enredo em direções mais intensas. O humor é retraído, quase nulo. O jovem vizinho, meio estranho, parece que vai desencadear um tríler criminal, mas nada acontece. O foco dramático de Furtado é mesmo uma divagação com ares de filosofia especulativa. Real Beleza une beleza e conhecimento de forma artificial. Como no momento em que a adolescente Maria (Vitória Strada) está fazendo pose fotográfica com óculos e segurando um livro.
A beleza realista não se afirma em Real Beleza por um motivo irônico: tal como os ensaios fotográficos de obsessão fotogênica, a feiura real não entra de forma relevante nos enquadramentos e na própria narrativa. Por outro lado, esse caráter unilateral não tem nada a ver com o fato de ser sobre um processo de seleção de jovens modelos fotográficas brancas e sulistas, pois o filme utiliza um procedimento visto em Central do Brasil (1998) e lá são rostos das camadas populares que se alternam com uma música melancólica de fundo. A questão limitante mesmo é a romantização dos encontros e das despedidas.
Mas nem tudo é pose e afetação. João fica puto no início quando é chamado de decadente por uma modelo, mas é justamente ela, a decadência, que está nas entrelinhas do ritmo contido do filme. Não são as frases feitas e as referências literárias que aprofundam Real Beleza, mas certa decomposição sugerida que parece estar presente de forma implícita no panorama metafísico daquele ambiente rural. A cegueira literal de Pedro (Francisco Cuoco) diz mais do que filosofar sobre o belo ali, pois indica a transitoriedade de mediações, a vulnerabilidade da existência e a beleza dos gestos interpessoais e pacientes. O gesto de doação conjugal de Anita (Adriana Esteves) chama tanto a atenção quanto sua nudez frontal.
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