Despicable Me II
(farsa,
USA, 2013),
de Chris Renaud
e Pierre Coffin.
por Paulo Ayres
Nos créditos finais de Despicable Me II, os minions insistem em não deixar o filme terminar, como se abrissem várias vezes uma janela num fundo preto. Talvez porque eles foram deslocados dentro dessa trama, talvez porque eles receberiam um filme próprio em seguida — Minions (2015) —, mas o ponto a se destacar é que esse filme deixa explícito que essas criaturas amarelas servem como uma espécie de catalisador coletivo do humor de farsa física num certo molde de fofura. Por trás disso não há nenhum vilão, há a mercadologia. Percebemos que seria difícil vendê-los como marca e bonecos na versão roxa que ressalta um lado monstruoso — é claro que existe uma subcultura gótica na sociedade, mas não é o caso aqui.
Minions ilhados (metafórica e literalmente), Despicable Me II tem um tema curioso sobre sexualidade e masculinidade, evidentemente adaptado para um produto infantil (ou para “levar a família” no vocabulário do marketing). Gru (voz de Steve Carell), ex-vilão grandiloquente, precisa não só se adaptar a um cotidiano modesto de pai de três meninas adotadas, mas preencher o papel principal de sátira edificante de amor. Segue, então, uma porção de contrastes absolutos, mas trazendo alguma complexidade nos traços de estereótipos. Seria fácil contrapor Gru, um homem branco rabugento e insosso, a um sujeito dito “padrão”, mas aqui a caricatura do “amante latino” — Eduardo Pérez com voz de Benjamin Bratt no original e Sidney Magal no Brasil — surge como contraponto de personalidade sedutora. Ainda que preso a certa idealização, o filme de Chris Renaud e Pierre Coffin observa uma aproximação contraditória de polos aparentemente próximos.
Aparências superadas, a essência da obra se concentra numa dicotomia fácil. Enquanto Gru esbanja felicidade numa cena ao som de “Happy”, de Pharrell Williams, Eduardo Pérez se revela El Macho, personificando além do costumeiro mal ficcional, a chamada masculinidade tóxica. Sem “tempo” de entrar nas questões mais profundas envolvendo a monogamia, a sátira foca em questões mais urgentes como a postura ativa e sociável diante do mundo, tendo a agente Lucy Wilde (voz de Kristen Wiig) como parceria expansiva... num sentido distinto da expansão egocêntrica.
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