sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Valor subjetivo

Rico Ri à Toa

 (farsa,
BRA, 1957)
 de Roberto Farias.
 


por Paulo Ayres

Como se fosse um conjunto de códigos nas farsas tardias da Chanchada, ocorre uma fórmula repetida à exaustão, tendo Zé Trindade como protagonista malandro. Em Rico Ri à Toa, entretanto, Roberto Farias, em seu primeiro filme, faz uma inversão interessante que traz um novo fôlego ao formato. Mesmo contendo uma jogada idealista, a inovação carrega também um aspecto discretamente crítico à ideologia familista. Uma contradição irônica com o próprio título, Rico Ri à Toa enfatiza, ingenuamente, que o dinheiro não traz felicidade. A sátira edificante abraça o discurso do anticapitalismo romântico sem nuances, de forma absoluta.

Pois bem, aí já se nota uma diferença fundamental: se em “outros carnavais” Zé Trindade e seus cúmplices corriam atrás de alguma grana de forma golpista — salientados como os malandros do bem —, em Rico Ri à Toa, ele já começa engolido por uma trama de bandidos — os lúmpens do mal —, recebendo uma herança de 15 milhões de cruzeiros deixada por um suposto irmão português. Mudando com a família para uma mansão, Zé ficará decepcionado com a high society, suas regras de etiqueta, performances da chamada alta cultura e os desmandos da esposa Isabel (Violeta Ferraz), vestindo com gosto o papel de “nova rica”.

É verdade que se pode observar a esposa megera como parte do imaginário da cultura patriarcal que faz piadinhas com as limitações do casamento, mas, mais profundo que essa dimensão, está o deboche discreto da própria relação monogâmica. É claro que o filme tem uma pequena dose de ponto de vista machista e só o protagonista masculino parece ter direito ao flerte. Por outro lado, esse tipo de fórmula farsesca — que será reciclada com o cinema dos Trapalhões — deixa, no mínimo, um espacinho para celebrar o amor sexual idealizado do pensamento juvenil. E a mocinha, filha de Zé, e seu namorado também querem retornar à vida simples da favela.

Símbolo da vida pobre de chofer, a Fubica (automóvel antigo) é descartada por Isabel, mas retorna. A quadrilha é presa e a escola de samba prevalece. Nem tanto um voto de pobreza, Rico Ri à Toa parece pregar um voto de simplicidade tão ingênuo, mas tão ingênuo, que é quase infantilizado. Porém, sabemos que o enredo não é tão imaturo assim porque, mesmo com o típico final feliz, as contradições do casamento tradicional foram salientadas e até supomos que o jovem casal pode (ou não) ir pelo mesmo caminho.

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