por Paulo Ayres
Em certo momento do filme Standy by Me (1986), os quatro meninos que se embrenham no mato, sentados, conversam sobre assuntos variados. Uma questão emerge: que diabos é o Goofy? Eles ficam em dúvida sobre qual animal antropomórfico é o personagem conhecido como Pateta no Brasil. É algo referente a uma questão que já virou piada e meme. O Pluto também é um cachorro no multiverso Disney. A resposta é aquilo mesmo que se nota: Goofy é um cachorro antropomórfico e o Pluto faz parte das criaturas que não são nesse mundo — embora, pelo contexto satírico, o animal pode apresentar uma inteligência maior que o da nossa realidade. Em Dog Man essa diferenciação salta aos olhos.
Na cidade da sátira animada, após um acidente envolvendo um policial e seu cão, uma cirurgia conecta o que resta de aproveitável dos dois: a cabeça de cachorro e o resto do corpo humano. Surge o Dog Man, um combatente do crime que tem um organismo híbrido. A postura de homem, mas às vezes com comportamento canino e sem falar uma palavra, apenas latir e uivar. Acontece que a farsa de Peter Hastings coloca um gato laranja antropomórfico no papel de arqui-inimigo, Petey (voz de Pete Davidson). Ele introduz, ainda, através do felino, o tema da paternidade e da amizade como foco da narrativa. Entre planos e invenções mirabolantes, Petey cria um pequeno clone de si mesmo. Além de um tipo de herói, Dog Man se torna o pet do “filho” do vilão. Nesse estranho triângulo social está a ordem, a desordem e o afeto entre os animais antropomórficos “naturais” e o servidor, que também é um bicho de estimação. Dog Man avança um patamar ôntico de complexidade, mas não totalmente para estar no nível comum dos cidadãos.
O processo de antropomorfização não para no dilema do protagonista. Torna-se um componente insistente no enredo. Um peixe, Flippy (voz de Ricky Gervais), assume o papel de vilão e adquire a capacidade de transformar os prédios do centro urbano em criaturas vivas e andantes.
Obra derivada de Captain Underpants: The First Epic Movie (2017), Dog Man é o mais recente longa da DreamWorks. Mais ou menos como RoboCop (1987), a animação farsesca é sobre um cadáver (ou quase) da classe servidora que é reutilizado em parte pela força policial do município. Diferente da sátira realista de Paul Verhoeven, na sátira edificante de Hastings o protagonista termina com uma família nuclear.
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