(farsa,
BRA, 2025)
de Fernando Fraiha.
de Fernando Fraiha.
por Paulo Ayres
Por que o Chico Bento (Isaac Amendoim) é tão fissurado na goiabeira do vizinho Nhô Lau (Luis Lobianco)? Outros camponeses da região não plantam goiaba? Nhô Lau não colhe e não vende suas goiabas? Os frutos dessa goiabeira nunca acabam? Questões como essas são irrelevantes, não somente porque Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é uma farsa, mas também porque a goiabeira é plantada no roteiro como ponto de desenvolvimento para outras questões.A concepção do filme é muito bem executada, captando a essência da obra original de Mauricio de Sousa. A Turma da Mônica (1959–) — em sentido amplo, incluindo a Turma do Chico Bento (1961–) — é uma HQ farsesca. Os quadrinhos da Turma da Mônica Jovem (2008–), diferentemente, são comediescos, no sentido estrito e intermediário. A sátira edificante, dirigida por Fernando Fraiha, sobrecarrega a caricatura audiovisual e expõe aspectos básicos das conexões da zona rural. Assim como o Chico Bento live-action, todo o elenco acentua o sotaque caipira. Mesmo os contornos mais desenvolvidos de Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa não alteram o gênero da farsa física: por exemplo, o Zé Lelé (Pedro Dantas) está mais roliço e a Rosinha (Anna Júlia Dias), mais alta; além disso, ela e o Chico estão com um tom de pele levemente bronzeado.
O discurso ecológico e a incorporação de uma suposta Mãe Natureza são linhas mais gerais e abstratas. O espírito encarnado da Goiabeira maravilhosa pode estar representado numa Taís Araújo idem, mas o conteúdo trata de uma concreta e localizada luta de classes. A classe camponesa que vive na Vila Abobrinha recebe a proposta de uma modernização geográfica feita pelo capitalista Dotô Agripino (Augusto Madeira). O fazendeiro e seu herdeiro mirim, Genesinho (Enzo Enrique), interagem com os habitantes dali tentando convencê-los de que uma estrada asfaltada é melhor que as ligações de chão batido. O interessante nisso é que, mesmo numa linguagem nonsense, o enredo cria um impasse, uma questão que, naquele universo, gera dúvidas. O progresso tecnológico, de fato, tende a facilitar a vida e, contra isso, a princípio, parece que Chico Bento é apenas um teimoso saudosista defendendo uma árvore singular. Com o tempo, fica claro que se trata de uma artimanha do agronegócio no sentido de superfaturamento e seu benefício privado se sobressaindo. Não é a tecnologia em si o mal, mas sua aplicação específica no contexto. E outra coisa interessante é que são as crianças que chegam a essa conclusão no debate. Uma geração mais escolarizada que a anterior. Nessa treta classista, elas nem precisaram da mediação direta da Professora Marocas (Débora Falabella). A servidora é uma determinação paralela no contexto das lutas agrárias e, também, transversal no desenvolvimento do campesinato.
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