(tragédia,
GRE/FRA/BEL/GER, 2025)
GRE/FRA/BEL/GER, 2025)
de [ ]
por Paulo Ayres
A rebeldia de Chloé extravasa no estranhamento com sua família e, quando ela conhece um grupo errante, se sente atraída por esse estilo de vida. Seu lar passa a ser uma casa motorizada e sua nova família nuclear cultiva certos costumes anárquicos. Talvez possa se falar em comunidade, pois há gente semelhante que não viaja. Mas, pelo menos na vida cotidiana do veículo, o número de pessoas é pequeno. A categorização de família nuclear incomum, ou família comunal, parece captar melhor aquela vida de estrada. Como é compreensível num núcleo familiar, I Agries Meres Mas mostra os problemas coexistindo com os vínculos afetivos de harmonia. Uma dose de tecnofobia aqui — dispensar os telefones celulares —, uma dose de Robin Hood ali — furtar estabelecimentos de penhores e distribuir coisas. Outro assunto apontado é que o estereótipo de good vibes não exclui momentos de ira.
Fantasmas: essa é a metáfora utilizada em conversas para definir essa postura transgressora e sem raízes. Nessa observação, o filme grego aprofunda o lado de limitação desse anticapitalismo romântico. Por outro lado, essa metáfora também indica que eles são rebeldes incompreendidos e temidos, exaltando o caminho como se fosse um custo, um sacrifício.
Numa complicação posterior, o ritual de furto se transforma em roubo no sentido de abordagem violenta. Nessa sequência está o momento mais ousado, pois a própria tática e a razão de ser do grupo aparecem comprometidos em sua legitimidade. Não que o ato, por si só, desfaça a imagem, mas é eficaz em problematizar o percurso. Algo que nem as falas sobre remédios e coisas do tipo chegaram perto de fazer. No momento em que há a imitação de bichos, então, acontece uma ironia bem-vinda sobre uma concepção de irracionalismo aberto, mas, ainda assim, um aspecto de superfície. Era preciso mesmo o atrito na reta final para o objeto retratado se mostrar nas suas contradições essenciais. Por isso, a última parte, bem no finalzinho, soa como um epílogo de meditação como drama edificante.
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