terça-feira, 12 de agosto de 2025

Comunidade alternativa

 

Smurfs

(farsa,
USA, 2025)
de [ ].



por Paulo Ayres

É mais que o estilo gráfico o diferencial do novo Smurfs para os episódios anteriores em longa-metragem, lançados nesse século — as comédias The Smurfs (2011), The Smurfs II (2013) e The Smurfs: The Lost Village (2017). Na nova versão, os personagens estão mais próximos do formato original, ainda que refinados pelas movimentações e contornos possíveis num projeto de custo alto. Assim como duas das comédias, a farsa dirigida por [Chris Miller] utiliza o contato de desenho animado e live-action. Diferente das comédias, Smurfs faz das cidades reais — no caso, Paris e Munique — apenas passagens de breve duração no seu enredo que agiliza a ideia de portas dimensionais.

Sem a interação com subtramas de humanos, Smurfs, o melhor filme, está voltado para um foco maior na história dos Smurfs. A sátira foi criada pelo belga Peyo, em 1958, gerando quadrinhos e séries animadas. Uma polêmica que os personagens levantaram foi de que a ficção seria uma propaganda comunista em versão de entretenimento infantil. No entanto, o que se pode dizer é que a Vila Smurf é uma comunidade alternativa; isto é, uma expressão do socialismo utópico. Comunidades alternativas existem no interior de sociedades capitalistas, no mais das vezes, sem oferecer risco ao sistema. Não se trata, portanto, do socialismo real dos estados proletários. No filme, Papa Smurf (voz de John Goodman) conta que essa comunidade foi criada como forma de proteção.

A estrela do filme é a Smurfette (voz de Rihanna). Ela pode cumprir a função de mestra, orientadora de No Name Smurf (voz de James Corden), mas a única fêmea da Vila Smurf está no centro dos acontecimentos da sátira edificante. Em parte, porque possui um elo de origem com o núcleo dos vilões feiticeiros: Gargamel e seu irmão Razamel (vozes de JP Karliak). Em parte, porque assume provisoriamente a liderança quando o Papa Smurf é capturado.

Outros Smurfs surgem em um tipo de organização distinta, apontando, com isso, que a história desses seres azuis não se restringe ao cenário bucólico. Na vila, a cooperação ocorre através de uma individuação ocupacional e o dilema de No Name Smurf é assumir uma tarefa que seja sua identidade. Esse Smurf singular confirmará a dedicação à magia. Enquanto isso, outro é conhecido pelos efeitos sonoros, útil para ocultar palavrões: o que significa que a Vila Smurf e esse mundo possuem, também, um grau de metalinguagem. A ocupação social ali, deste modo, é ter também uma utilidade para a narrativa se desenvolver, deixando o produto estadunidense com a classificação da idade apropriada. 

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