The Terminator
(tríler,
USA, 1984),
de James Cameron.
= = =
por François Giraud
DVDClassik/2012
Na grande família de monstros do cinema, há a criatura de Frankenstein, um aglomerado de carne morta; há o robô Gort, invencível e destrutivo, veio a raciocinar com os homens no The Day the Earth Stood Still [1951]; há também o tubarão devorando tudo o que está ao alcance das mandíbulas em Jaws [1975]. E, às vezes, o monstro pode se fazer humano, quando se torna um predador irracional perseguindo sua presa com sadismo, como aquele motorista anônimo em Duel [1971]. Porque ele reúne todos esses mitos no mesmo personagem, o Terminator incorpora o monstro absoluto, o protótipo final da máquina de matar, indestrutível, sem alma e sem piedade. Ele possui tanto a implacabilidade do caçador de recompensas, a frieza do serial killer, a violência do psicopata. Se ele assombra com tamanha força o imaginário coletivo, é porque reenvia o homem à sua própria desumanidade, às suas ansiedades por um futuro incerto e um mundo instável que se autodestrói na sua corrida frenética rumo ao progresso. Ele não é apenas um corpo com músculos hipertrofiados e estatura colossal, mas sobretudo, uma máscara imóvel que se desfaz quando o pesadelo atinge seu paroxismo. Ele é aquele monstro com rosto humano, de feições inexpressivas, rígidas, implacáveis. É a alegoria mais dura de um gênero de filmes que nos anos oitenta exaltava a virilidade dos atores. Ele é a essência própria do cinema, máquina de fantasia, máquina de espetáculo, máquina que impele os personagens aos seus limites apontando-lhes com múltiplas câmeras. Esqueleto metálico irredutível, ele é aquela criatura aterrorizante que se alimenta dos pesadelos dos heróis que persegue. O Terminator é uma construção cinematográfica pura, transgredindo os gêneros e os modelos preconcebidos.
Quando escreveu o roteiro de The Terminator, James Cameron ainda era apenas um pequeno diretor desconhecido tentando recuperar sua saúde após o fiasco artístico de Piranha II: The Spawning [1981]. As restrições orçamentárias o impelem para uma certa sobriedade estilística. Para se ter uma ideia, o filme custou seis milhões de dólares, uma ninharia em comparação com os cento e dois milhões investidos na produção de Terminator II [1991] sete anos depois. A primeira obra contém as sementes de uma saga ambiciosa tratada aqui com uma simplicidade ousada. Com efeito, ele contorna as dificuldades do filme de antecipação ao espelhar o mundo pós-apocalíptico de amanhã na Los Angeles de 1984. Além do prólogo que precede os créditos, duas cenas somente acontecem no futuro: elas oferecem visões de guetos, máquinas gigantescas rolando num chão repleto de crânios, lasers riscando a noite escura. Essas sequências de batalhas são apresentadas cada vez como um sonho brutal; o primeiro flashback termina quando Kyle Reese acorda assustado, enquanto o segundo é interrompido quando este percebe que Sarah adormeceu. A percepção do futuro é, portanto, feita no modo de um medo reprimido, no entanto, incessantemente reativado pela presença do Terminator.
James Cameron opta por uma estética que mistura a escuridão do polar urbano com um traço nervoso inerente ao universo dos quadrinhos. A propensão a mostrar o lado sórdido de Los Angeles, aquele dos becos cheios de jornais e latas de lixo, aquele das zonas industriais periféricas, o dos catadores de lixo, dos punks e dos vagabundos, tende a moldar um universo sombrio, voluntariamente caricatural. Sempre filmados com uma forma de distanciamento irônico, os personagens secundários são esboçados em algumas linhas grosseiras. O pequeno bando de punks sem futuro, ironicamente ameaçado por um ciborgue encarnando um futuro caótico, tem uma linguagem tão estereotipada que o Terminator só pode repetir as mesmas frases, não encontrando melhores distribuições em seu software de frases pré-registradas. Quer sejam a polícia ou os amigos de Sarah Connor, esses fantoches se comportam como autômatos, ao ponto de às vezes faltar realismo psicológico. São puros tipos cinematográficos reproduzidos industrialmente de um filme a outro, à imagem do T-800, ciborgue montado em linha nas fábricas do futuro e reaparecendo a cada uma das sequências da saga em um papel diferente.
Com base no modelo que foi comprovado em Jaws [1975], cada uma das aparições do Terminator é anunciada por um tema musical angustiante. James Cameron multiplica os planos fixos com cuidado implacável e os movimentos lentos da câmera a fim de melhor transcrever a potência do T-800. Este último sempre aparece abruptamente no campo da câmera. Sua presença física monumental é intensificada por contre-plongées vertiginosos ou plongées esmagadores, dependendo do ponto de vista adotado. As desacelerações opressivas, as armas exuberantes apontadas em primeiro plano, o lampejo de terror nos olhos das vítimas estruturam sequências de ação altamente coreografadas nas quais o apavoramento altera a percepção da realidade. James Cameron utiliza igualmente técnicas próprias do filme de horror para destilar um suspense angustiante. Ele faz notadamente alusão à Psycho [1960] quando o Terminator imita a voz da mãe de Sarah ao telefone.
Seja a secretária eletrônica, a televisão ou o walkman, os objetos eletrônicos ocupam um lugar central, até mesmo assombroso. O filme foi lançado numa época em que o desenvolvimento tecnológico, a comercialização do computador doméstico, a expansão do mercado de videogames e a cultura da telinha estão em plena expansão. Ginger sempre tem um walkman nas orelhas, mesmo quando passa uma noite de amor com seu namorado Matt. O Terminator pisoteia esta sociedade hiperconsumista, individualista e escravizada pelo sistema. Isso é ainda mais marcante na casa noturna, quando o acionamento da câmera lenta [ralenti] corresponde à interrupção do som diegético: o Terminator então faz seu caminho por corpos que se movem mecanicamente, sem contato físico com os outros, fechados nessa busca frenética por prazer individual.
O Terminator ataca em pontos nevrálgicos da sociedade americana, derrubando sistematicamente os códigos próprios para polar urbano: ele mata o vendedor de armas com suas próprias armas, ele deixa a fogo e à sangue [à feu et à sang] a delegacia, espalha o terror em subúrbios residenciais pacíficos, priva o filme de um final feliz consensual. A máquina empurra os humanos para que retornem aos fundamentos, fazendo uma tábula rasa do que já preexistia. Sarah Connor se livra do avental de garçonete de um fast food para se tornar, ao final do filme, uma espécie de hippie sem teto nem lei, pronta para enfrentar a tempestade que se aproxima.
Os anos de 1980 constituem um ponto alto na expansão da sociedade de consumo americana. A produção industrial de blockbusters e o nascimento do videoclipe definem esse modelo cultural que enaltece o culto da imagem e dos corpos. A criação de um personagem também infalível como o Terminator é um sintoma da virilização dos heróis fabricados pela indústria de Hollywood. Antes das filmagens de The Terminator, James Cameron notadamente escreveu o roteiro da segunda parte de First Blood [1982], herói sobre-humano reagindo contra a sociedade que o rejeita; assim como o Terminator, Rambo resiste a tudo, mata seus inimigos às dezenas e se mostra pouco falador. O corpo fisiculturista [bodybuildé] de Arnold Schwarzenegger está aqui muito menos exibido do que em Conan the Barbarian [1982], que ajudou a forjar sua imagem de senhor músculo. Sua aparência é no entanto muito estudada. Com sua jaqueta de couro preta e sua motocicleta, ele parece reativar de forma paroxística e paradoxal o mito do jovem rebelde violento, frio, fora da lei e pouco falador, encarnado por Marlon Brando em The Wild One [1953]. De maneira geral, o T-800 destrói todos os mitos cinematográficos americanos, derruba-os e os ultrapassa numa escalada de violência e desumanidade.
O ator fascina tanto com os traços inflexíveis de seu rosto quanto com sua presença física avassaladora. Antes de entrar na delegacia, o Terminator se prepara diante de um espelho com a precisão do ator que se prepara para entrar no palco para articular a frase da sua vida; “I'll be back” ainda faz a glória de Arnold Schwarzenegger que se autoparodia voluntariamente no recente The Expendables II [2012]. Embora o crepúsculo já tenha coberto com um véu escuro Los Angeles, ele se adorna com um par de óculos de sol para esconder a ferida aberta da sua órbita esquerda. Este é o tipo de acessório que ajudou a forjar a dimensão icônica do Terminator. Muito mais discreto, Kyle Reese tenta o tanto quanto possível [tant bien que mal] de avançar ao grau de insensibilidade do Terminator, resistindo à dor ou assumindo riscos imprudentes. Marcado por múltiplas cicatrizes, seu corpo traz as marcas de uma humanidade ameaçada pela onipotência das máquinas. Ao contrário de muitos filmes de ação que colocarão em cena Arnold Schwarzenegger ou Sylvester Stallone, The Terminator traça uma linha clara entre o super-homem, ciborgue de carne e osso, e o simples lutador, corajoso, mas vulnerável (e, portanto, mortal).
Quanto mais o Terminator semeia o caos, mais sua fisionomia humana se deteriora e mais ele encarna plenamente esse futuro apocalíptico. Que o Terminator acabe sendo destruído em uma fábrica é tudo menos uma coincidência. Este lugar reflete o funcionamento do cinema, vasta maquinaria industrial fabricante de todas as partes do universo e de criaturas extraordinárias que desafiam a imaginação. Por seus efeitos especiais às vezes hesitantes, The Terminator é um filme concebido de forma quase artesanal. A máscara do T-800, o andar ligeiramente espasmódico do ciborgue, a visão sumariamente esboçada do futuro revelam uma certa propensão para bricolage, lembrando assim filmes pioneiros como King Kong [1933]. Fábrica de espetáculo, o cinema é, todavia, mais do que uma máquina de guerra industrial; ele toca em coisas tangíveis que escapam a simples engrenagens bem oleadas. Buscando mudar o passado, o Terminator impele Sarah Connor a se metamorfosear em mulher forte, pronta para cumprir seu destino. Ele também permite a Sarah e Kyle viver um caso de amor extratemporal, dando assim à luz a John Connor, futuro líder da resistência. Este amor além do tempo, criando uma ponte de humanidade entre o presente e o futuro, não deixa de evocar La jetée [1962] de Chris Marker e adiciona um toque de poesia a esse filme que é, no conjunto, muito brutal.
The Terminator é um filme de resultado formal exemplar, concebido por um artesão visionário e perfeccionista. Arnold Schwarzenegger também contribui totalmente no sucesso artístico do filme. Ele foi inicialmente sugerido para fazer o personagem de Kyle Reese, mas insistiu em interpretar o T-800, que é bem mais do que o simples vilão da história. O Terminator cristaliza em torno dele sentimentos contraditórios, entre horror e fascinação, entre medo e júbilo. Ele é também o motor de um filme de intensidade dramática prodigiosa — o diretor-roteirista tem essa capacidade, aqui incrivelmente eficaz, de fazer avançar a dramaturgia conjuntamente às cenas de ação e sem se sobrecarregar com sequências explicativas fáceis, não deixando assim quase nenhuma trégua para o espectador. O entusiasmo em torno do Terminator encorajou James Cameron a fazer em 1991 uma sequência que definitivamente ancorou este personagem no imaginário coletivo. Quando o T-800 diz “I'll be back”, ele ainda mantém sua promessa...