Ted
(comédia,
USA, 2012),
de Seth MacFarlane
de Seth MacFarlane
Há um par de coisas (não são essas em que estão a pensar) que projectam Ted para lá da simples piada, da novidade do filme com o urso de peluche que ganha vida e dá num estroina de primeira. A primeira é gloriosa: Ted, cuja voz pertence ao realizador e co-argumentista Seth MacFarlane (criador da série de animação Family Guy [1999–]), é mesmo uma personagem de corpo inteiro, que existe ao mesmo nível de todas as outras deste filme (ou até mais do que a maioria das outras, vista a sua complexidade emocional). A segunda é não menos gloriosa: começar Ted como a “história de encantar” do ursinho que ganha vida para ser o amigo do menino solitário, com o desejo mágico e a estrela cadente tão típicas do universo Disney... e preferir instalar-se inteiramente no quotidiano inescapável que acontece depois do “viveram felizes para sempre” na Boston de classe operária onde o estádio de Fenway Park é uma catedral. É que isto das histórias de encantar, aqui entre nós, é uma história de meninas, e Ted é um urso muito macho.
Resolve-se nisto, então, a “esquizofrenia” amável de um projecto que não se resume facilmente: à superfície, Ted é uma comédia romântica nos moldes apatowianos actuais (ver: The 40-Year-Old Virgin [2005], Knocked Up [2007], Forgetting Sarah Marshall [2008]) sobre um casal (Mark Wahlberg e Mila Kunis) que enfrenta uma crise de crescimento, só que com urso ao barulho pelo meio. Mas, no fundo, Ted é também um filme de um maravilhoso que se dilui no quotidiano sem nunca perder a sua potência, remetendo para o cinema americano dos anos 1980 como apenas Super 8 [2011] de J. J. Abrams o fez recentemente. Com a diferença de que, onde Abrams era reverente face ao modelo Spielberg, MacFarlane entra por uma estética mais meta-referencial da cultura pop dos anos 1980, que homenageia e parodia ao mesmo tempo (aqui, o mote recorrente é o Flash Gordon de Mike Hodges, produzido em 1980 por Dino de Laurentiis).
É capaz de ser muita coisa para um só filme: durante a maior parte da sua duração Ted podia ser You, Me and Dupree [2006] (para melhor) com o urso a fazer de emplastro, no último terço guina para um policial deliberadamente incompetente; nunca perde a incorrecção política do humor de MacFarlane mas também nunca abandona o desejo de ser levado a sério como uma espécie de “spielbergada” com bocas ordinárias; ora parece uma comédia televisiva melhor do que a média, ora joga com todos os lugares-comuns da comédia cinematográfica para melhor os desmontar. E, pelo meio disto, essa vontade de ser tudo ao mesmo tempo agora dá a Ted um charme e uma personalidade bem particulares, que fazem com que o filme resulte para lá do simples gague do urso maroto.
Resolve-se nisto, então, a “esquizofrenia” amável de um projecto que não se resume facilmente: à superfície, Ted é uma comédia romântica nos moldes apatowianos actuais (ver: The 40-Year-Old Virgin [2005], Knocked Up [2007], Forgetting Sarah Marshall [2008]) sobre um casal (Mark Wahlberg e Mila Kunis) que enfrenta uma crise de crescimento, só que com urso ao barulho pelo meio. Mas, no fundo, Ted é também um filme de um maravilhoso que se dilui no quotidiano sem nunca perder a sua potência, remetendo para o cinema americano dos anos 1980 como apenas Super 8 [2011] de J. J. Abrams o fez recentemente. Com a diferença de que, onde Abrams era reverente face ao modelo Spielberg, MacFarlane entra por uma estética mais meta-referencial da cultura pop dos anos 1980, que homenageia e parodia ao mesmo tempo (aqui, o mote recorrente é o Flash Gordon de Mike Hodges, produzido em 1980 por Dino de Laurentiis).
É capaz de ser muita coisa para um só filme: durante a maior parte da sua duração Ted podia ser You, Me and Dupree [2006] (para melhor) com o urso a fazer de emplastro, no último terço guina para um policial deliberadamente incompetente; nunca perde a incorrecção política do humor de MacFarlane mas também nunca abandona o desejo de ser levado a sério como uma espécie de “spielbergada” com bocas ordinárias; ora parece uma comédia televisiva melhor do que a média, ora joga com todos os lugares-comuns da comédia cinematográfica para melhor os desmontar. E, pelo meio disto, essa vontade de ser tudo ao mesmo tempo agora dá a Ted um charme e uma personalidade bem particulares, que fazem com que o filme resulte para lá do simples gague do urso maroto.
Lista de fantasy comedy no subgênero magical fiction: