(folhetim,
USA, 1993),
de Jack Sholder.
por Paulo Ayres
O telefilme 12:01 (“Meia-noite e Um” em português) surge atrasado em alguns meses. Apesar de ser baseado num conto de Richard Lupoff publicado vinte anos antes (1973), o folhetim está na sombra de outra sátira estadunidense mais famosa e lançada antes no mesmo ano: Groundhog Day (1993), outra peça da antiga vitrine da Sessão da Tarde que trata do loop temporal. Na comédia, a explicação para a repetição do mesmo dia é mágica; em 12:01 a explicação é apresentada como científica.
No desdobramento de ruptura e conservação, o filme de Jack Sholder contorna um ambiente prosaico em vez de expor cada vez mais suas contradições. Quanto mais as repetidas vivências no mesmo dia de Barry Thomas (Jonathan Silverman) ocorrem, mais os elementos cotidianos se desbotam: as crianças vizinhas jogando a bola de futebol americano, o trânsito, os problemas típicos no serviço e no âmbito da afetividade. É um processo de lapidação que ocorre não somente com esse servidor do departamento pessoal, como também naquilo que a narrativa recorta de seu dia. À cada volta de Barry, mais premeditada e confiante, aquela vida cotidiana vai se tornando um esboço manipulável positivamente. Nesse sentido, 12:01 se distancia, gradualmente, da representação da rotina rumo à
aventura genérica, enquanto preserva a
ambientação comum da vida urbana do presente, gerando um techno-feuilleton discreto.
O adorno de sci-fi é apenas o robozinho despertador na casa do colarinho branco protagonista. Mesmo porque, apesar de desenvolver um acelerador de partículas, a empresa, na qual o enredo gira ao redor, possui o aspecto corriqueiro (com seus computadores antigos, para o olhar de hoje). Por outro lado, nas suas repetições iniciais, a sátira edificante sublinha bem o aspecto sufocante da vida cotidiana na sociabilidade capitalista, fazendo jus à proposta ficcional de alta tecnologia e baixo nível de vida — embora essa alta tecnologia não esteja tão salientada no mundo retratado. A musiquinha
tema (de Peter Melnick) reforça a ironia melancólica da repetição artificial do dia a dia. Todavia, a investigação criminal da morte de Lisa Frederick (Helen Slater) assume o centro da atenção e, ainda por cima, mediada pela subjetividade reordenadora de Barry. Ou seja, o componente fantástico-científico, no decorrer da trama, deixa de ser um instrumento metafórico da nossa vivência alienadamente repetitiva para focar nesse caso singular. Assim como The Truman Show (1998), outro folhetim tecnológico, 12:01 é
um curioso processo de fuga do cotidiano que leva à lugar nenhum — ou, mais precisamente, para a afirmação do
lugar-comum.
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Lista de sci-fi feuilleton no subgênero techno-fiction:
[0] Primeiro tratamento: 19/07/2018.
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