domingo, 14 de julho de 2024

Pressão parcial

Justice League: 
Gods and Monsters

(folhetim,
USA, 2015)
de Sam Liu.



por Paulo Ayres
 
O cinema de super-herói em versão trileresca se mostrou uma má ideia. Puxando pela memória, apenas três títulos resultaram em bons dramas edificantes: Unbreakable (2000) e Glass (2019), de M. Night Shyamalan, e The Dark Knight (2008), de Christopher Nolan. Além de várias bombas, esse tipo de material de HQ também deu origem a Joker (2019), drama realista de Todd Phillips, mas esse tríler nem pode ser considerado uma ficção de super-herói, havendo somente uma ponta de um Bruce Wayne criança. É por isso que a Warner resolveu mudar o universo cinematográfico que estava sendo trabalhado, o DCEU, para a versão satírica, para ter o tom que a Disney/Marvel já estava fazendo. Essa mudança de rota apenas redireciona os filmes live-action para a abordagem mais adequada desse tipo de ficção, a abordagem folhetinesca que há nos quadrinhos e animações. E é justamente em animações que a Warner se destaca, embora tenha variado muito nos universos dos filmes animados anuais e uma obra diferenciada como Justice League: Gods and Monsters tenha menos repercussão do que mereça.

O diferencial de Justice League: Gods and Monsters já começa pelos traços de Bruce Timm. O criador do DCAU — junto com Paul Dini — proporciona certa autoria reconhecível a esse folhetim, pois o diretor Sam Liu também comandou outros filmes animados com resultados pouco chamativos. Timm e o roteirista Alan Burnett apresentam uma realidade paralela da DC em que há várias diferenças e a principal é que Superman, Batman e Mulher Maravilha são ambíguos e violentos. Desenho com uma dose de sangue e mortes, a proposta é entrar na linhagem que problematiza a própria existência desse tipo de mitologia contemporânea, com a questão “quem vigia os vigilantes?”. Linhagem essa que vai da época da graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, Watchmen (1986–1987), até a série televisiva recente The Boys (2019–) — série que, aliás, não segue a encenação trileresca, sendo uma dramédia e, portanto, uma quase-sátira. Contudo, por mais que Justice League: Gods and Monsters traga esse discurso subversivo e tenha um tanto de aspecto gore, os três personagens “titulares” da DC permanecem intocados. É que o Superman, o Batman e a Mulher Maravilha são as identidades de outros personagens. O kryptoniano rebelde é filho do General Zod e criado por uma família mexicana. O vigilantismo desse Batman, que é cientista e vampiro, está bem saliente como característica fascistoide. E Bekka, neta do Pai Celestial, é uma Mulher Maravilha que está mais para justiceira e femme fatale.
 
Ainda assim, mesmo usando essas figuras reservas e deixando claro que é uma dimensão alternativa, o filme busca uma resolução que inocenta o trio e o concilia com a sociedade estadunidense. Sendo uma sátira edificante, então, é mais do mesmo. Aquilo que é comum ver em folhetins sobre super-heróis. Mesmo porque esse tipo de questionamento já foi incorporado como um ingrediente dosado na tradição temática, vide The Incredibles (2004) que a Pixar fez.

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