Dracula
(folhetim,
USA, 1992),
de Francis Ford Coppola.
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por Carlos Primati
Interlúdio/2012
Winona Ryder se sentia em dívida com Francis Ford Coppola desde que recusara um papel de destaque na terceira parte [1990] da trilogia The Godfather. O filme fracassara implacavelmente em parte pela desastrosa atuação de Sofia, a inexperiente filha do diretor. Para tentar compensar a falta com o amigo, Winona levou até ele um projeto que lhe pareceu perfeito para o cineasta: o roteiro de uma adaptação de Dracula planejada originalmente para a televisão.
Reputado pelos apressados e desinformados como uma “adaptação fiel” do livro escrito por Bram Stoker em 1896, o filme parece pouco preocupado com essa devoção: é mais uma oportunidade para Coppola declarar seu amor ao cinema artesanal e para citar, aqui e acolá, referências a praticamente todas as versões anteriores da história. Há o vampiro se levantando do caixão como em Nosferatu [1922]; o gracejo de “I never drink… wine” de Bela Lugosi na versão de 1931 e os loucos se rebelando no hospício como na refilmagem de 1979. O prólogo que associa o conde vampiro à figura histórica de Vlad Tepes — um cavaleiro cruzado que realmente existiu e que serviu de inspiração ao próprio Stoker para o monstro de seu livro — é uma ideia sagaz e bem resolvida. Justifica-se, ali, por que Drácula é um anticristo e sua aversão à cruz.
Porém, é no aspecto visual que Dracula mais encanta: um cinema gracioso e repleto de trucagens engenhosas que remetem ao cinema apaixonado de Georges Méliès e Jean Cocteau, às vezes chegando às raias da afetação, mas jamais deixando de maravilhar os olhos. Peca pelo excesso, mas é um exagero bem-vindo, pois ainda é um cinema artesanal, orgânico, vivo.
O único problema do filme, se é que podemos tratar assim, é a discutível justificativa para se contar uma história romântica — e a frase de publicidade não deixa dúvida: “o amor nunca morre”. Ao inserir uma trama de reencarnação, que absolutamente não faz parte do livro, Coppola confunde os monstros: o vampiro é apenas imortal; reencarnação é coisa de múmia, de Imhotep e Kharis. Isso se deve em parte à curiosa similaridade do roteiro do Dracula de Coppola com o do telefilme escrito em 1974 por Richard Matheson e protagonizado por Jack Palance. Foi essa produção, dirigida por Dan Curtis, que estabeleceu o conceito do “amor reencarnado”. Matheson sabidamente tem interesse em preceitos do espiritismo: além de filmes de horror que às vezes tentam explicar fantasmas por meio da parapsicologia (The Legend of Hell House [1973]), ele também escreveu histórias de amor que desafiam tempo e espaço (Bid Time Return [1975], What Dreams May Come [1978]).
Coppola não tem essa desculpa doutrinária e resulta incômoda essa opção, mas o espetáculo visual de Dracula parece tão absoluto que poucos parecem realmente preocupados com a essência de seu discurso.
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Lista de fantasy feuilleton no subgênero magical fiction:
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