sexta-feira, 11 de abril de 2025

Visão noturna

 Scary Movie II

(farsa,
USA, 2001)
de Keenen Ivory Wayans.



por Paulo Ayres

Dos cinco filmes da série Scary Movie, o segundo é o mais diferenciado na estrutura do roteiro, sem que, com isso, signifique ser o melhor. O anterior é um grande filme, mas, se notar bem, ele possui um jogo paródico que continuou do terceiro (2003) em diante: pegar dois filmes como paródias principais, enquanto outros filmes ou assuntos, geralmente recentes, jogam uma referência aqui e ali. Scary Movie II, diferentemente, parece mais satirizar o subgênero temático de casa mal-assombrada de maneira genérica. As paródias específicas entram como os acessórios rápidos e descartáveis na narrativa. No perde-ganha: a sátira com mais originalidade e identidade própria na série, mas, também, revela mais a fragilidade do esquema.
 
O prólogo de Scary Movie II entra com o pé na porta e profana o clássico (em repercussão) da ficção sobrenatural The Exorcist (1973). Em vez de algo do passado recentíssimo, uma velha obra consagrada. Repossessed (1990), outra farsa metalinguística com esse estilo, já havia se dedicado inteiramente ao filme de William Friedkin, contudo, mais como uma continuação não oficial. Scary Movie II reproduz o essencial de impacto e atira a sua Hell House para o período posterior em que a residência serve de experimento parapsicológico do Professor Oldman (Tim Curry), convidando um grupo de seis universitários para uma noite no local. The Haunting (1999), The Legend of Hell House (1973) ou House on Haunted Hill (1999), qual seria a estrutura paródica? Independente disso, a mansão soa mais como um ponto de partida.
 
Nos ingredientes da sátira edificante de Wayans estão Hollow Man (2000), Hannibal (2001) e Charlie's Angels (2000). Contraditoriamente, esse banquete referencial aparece num rodízio casual — embora não ao ponto da anarquia narrativa — depois da sequência de um banquete literal. Até essa parte inicial prometia bastante, principalmente em duas figuras com deficiência física — Dwight Hartman (David Cross) e Hanson (Chris Elliott) —, que são mais bem desenvolvidos, enquanto personagens, que a turma “normal” de Cindy Campbell (Anna Faris). Depois do (quase) jantar, uma sucessão de “esquetes” clichês com papagaio, gato preto, fantasma, palhaço, esqueleto humano, quadro da falecida... Destaque para a inversão coisificadora que faz Shorty Meeks (Marlon Wayans) ser um baseado gigante fumado por uma planta. Brisa boa, mas dispersa.
 
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