terça-feira, 8 de abril de 2025

Pilhagem pop

Zombieland 
 
(comédia,
USA, 2009)
de Ruben Fleischer.
 


por Paulo Ayres

Em determinado momento do primeiro Zombieland, há um turismo pela Hollywood pós-apocalíptica e a visita à mansão do ator Bill Murray. Toda a graça que se instala nessa passagem está no tom aleatório e gratuito desse “novo normal” (para usar um termo na moda no recente período pandêmico). Inclusive no desfecho insensível da participação especial. No entanto, é justamente nesse local que fica mais evidente a rigidez binária da qual padece essa eco-comedy e boa parte dos entretenimentos mundo a fora. Há aqui dois tipos paralelos de reverência, de veneração: uma pela mercadoria e outra pela família. Tudo o que não for a segunda é, em algum nível, coisificado no conjunto da primeira. Enquanto o amor romântico está numa sala, Murray e os bolinhos (twinkies) estão em outra.

Zombieland é iconoclasta, é verdade. Mas só até certo ponto. Sabe que precisa de um movimento positivo, que agregue, não só dilua. De fato, tal procedimento é necessário para evitar uma areia movediça da arte degradante. O problema geralmente é com o que vai preencher esse movimento. Geralmente são as velhas lições comuns em ficções caretas, com apenas um update no tipo de romantização. O politicamente incorreto de almanaque faz tanto sucesso porque ele é contrabalançado com uma dose de familismo. Essa comédia de ficção científica, todavia, não esconde a sua meta. Ela está lá na narração em off de Columbus (Jesse Eisenberg) em busca de um aconchego doméstico. O interesse desse filme de pandemia zumbi é juntar os aspectos nerd, cool e gore, e esses, por sua vez, servem de estrutura para o manjado fetiche da família nuclear.

No fim das contas, Zombieland é uma sátira edificante e se desenvolve no máximo que essa categoria pode chegar no seu protorrealismo. O núcleo familiar agrega um gamer acanhado, um cowboy xucro e duas “bonitinhas, mas ordinárias”. Entretanto, o reflexo conseguido é de uma viagem turística inusitada e um road movie estacionário. Diferente da abordagem do folhetim Dawn of the Dead (1978), por exemplo, Zombieland exalta a ideologia consumista; ainda que seja como uma caricatura contraditória que permite a autocrítica.

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Lista de sci-fi comedy no subgênero eco-fiction:
[0] Primeiro tratamento: 29/07/2021.
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