Fator biótico

Xiong Mao Ji Hua

(comédia,

CHN, 2024)
de [ ]. 

 

por Paulo Ayres 

 

Em certos casos, a dúvida quanto ao gênero temático de uma obra é algo mais complexo. À guisa de ilustração, pense na fronteira entre ficção histórica e ficção científica. Em boa parte dos exemplares a classificação se torna evidente devido ao grau de ciência e tecnologia especulativas. Há, porém, uma fração de ficções que abrem uma margem de dúvida porque o grau tecnológico apresentado está moderado e refletindo certas coisas atuais. A comédia chinesa Xiong Mao Ji Hua é um exemplo nessa fronteira ficcional. O principal cenário em que se desenvolve o enredo é um jardim zoológico. O Noah Zoo é muito bem equipado com tecnologia de ponta e possui, como objeto mais chamativo de automatização relativa, pequenos robôs. Talvez seja, mais ou menos, uma tecnologia contemporânea em uso. Talvez apenas a comunicação seja uma incremento exagerado do roteiro. Enfim, então, seria necessário pesquisar o quanto de máquinas realmente existentes Xiong Mao Ji Hua reproduz na sua trama para determinar um gênero temático específico?

 

Outro elementos podem auxiliar essa classificação para além do grau realmente existente do maquinário retratado. Hu Hu, o filhote de panda, é um elemento central no enredo. É dito que se trata uma raridade genética o fato de ele possuir manchas nos olhos em proporções diferentes. O animal, que faz sucesso entre seguidores de internet, é adotado, em certo sentido, pelo astro de cinema Jackie Chan. Logo, Chan, interpretando a si mesmo, estará enfrentando um grupo sequestrador que quer levar o pequeno urso. As ótimas acrobacias e o uso idem da espacialidade continuam em forma criativa, mesmo com os possíveis recursos auxiliando a encenação das lutas corporais do ator idoso. Junto com Su Xiaozhu (Ce Shi) e David (Xiang Wei), Chan forma um tipo de defesa do parque, segurando o bicho digital, entre uma pancadaria bem coreografada e outra. Fala-se sobre a “ação” entre o comando de filmagem e a motivação na vida cotidiana.

 

Na consideração de que se trata de uma ficção científica, o subgênero ecológico emerge como identidade provável.  O fator biótico é essencial nessa amálgama de sobreposições de assuntos. Hu Hu traz a carga iconográfica dessa espécie como um símbolo da cultura do país. Numa passagem, outros mamíferos (de computação gráfica) são usados como forças naturais e momento de perigo: Chan e David ordenham uma rinoceronte. Interações que, entre proteção e ameaça, constituem uma esfera temática que predomina na sátira edificante. 

 

Até mesmo o final conciliatório de Xiong Mao Ji Hua, com o vilão fragilizado, favorece a dissolução do aspecto criminal. A “pandice” enche a tela e o significado da comédia.

 

= = =

Lista de sci-fi comedy no subgênero eco-fiction:

• Superfície específica
• Pilhagem pop
• Transporte niilista
• Glacê antidialético

= = =