BRA, 2025)
de Roberto Santucci.
de Roberto Santucci.

por Paulo Ayres
Se No Gogó do Paulinho (2020) conta a história de vida desde o nascimento até emergir o personagem humorístico de Maurício Manfrini, Top Love: Só e Bem Acompanhado é um relato da decadência e a busca de se reerguer. A situação é desoladora no sentido de que a figura perde sua esposa e sua casa. A Nêga Juju o abandonou. Cacau Protásio, que deu vida a tão falada personagem no filme anterior, aparece somente num retrato quebrado no segundo longa satírico. Esse universo nonsense parece conspirar contra a vida de Paulinho Gogó. Sem o banco da praça — seja o do programa humorístico (1987–) do SBT ou o de No Gogó do Paulinho —, resta a sarjeta ao pagodeiro de boteco. No divã de psicoterapia na calçada, o ouvinte é um mendigo analisando a retrospectiva, que é o próprio enredo se desenvolvendo.
Filme com o foco numa turma, Top Love: Só e Bem Acompanhado mira na encenação de certos nomes que Gogó vive contando em suas piadas. Por exemplo, há o Luiz Perna Torta (Ataíde Arcoverde) e o Biricotico (Giovani Brás). O primeiro é dono do bar e o segundo é parte de uma banda de samba não profissional, junto com Gogó e outros frequentadores do estabelecimento. São “fechamentos”, que no vocabulário de Gogó significa grandes amigos. No momento da segunda queda, mais financeira do que afetiva, até eles somem. Gogó recorre ao gerente do banco, na participação especial de Carlos Alberto de Nóbrega, mas o que encontra é só o fechamento dos contatos que dão identidade ao personagem carioca. Mesmo havendo, como conclusão, um percurso debochado de tudo entrando nos eixos do final feliz, ocorre antes uma operação profunda de “desconstrução” do sujeito.
São muitos os temas e as referências que o diretor Roberto Santucci comanda nessa nova sátira edificante. Top Love é uma farsa metalinguística em live-action, ao estilo de Airplane! (1980). Há uma profusão de montagens em cena, colocando e tirando elementos que transbordam a trama. Nisso Santucci e os roteiristas continuam de parabéns. A ficção possui um ritmo bem cadenciado de autoironia intensa, como nas obras estrangeiras com essa proposta. Entre os assuntos, as seguintes alfinetadas se destacam: o guru do tipo “trago a pessoa amada”; a busca por relacionamentos em aplicativos como o Tinder ou indo à academia de exercício físico; o enriquecimento através do jogo com apostas; e a ostentação na mordomia e na confraternização de gente rica.
Trocando em miúdos, em Top Love, as voltas que o mundo dá, e comparecem em expressões e metáforas com giros em roda da fortuna, roda viva, roda gigante etc., possuem a descontração de uma roda de samba.
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