Just Go with It
(comédia,
USA, 2011)
de Dennis Dugan.

por Paulo Ayres
Em algumas sátiras edificantes é mais fácil perceber certa estrutura binária em que duas tendências se opõem até decretar a supremacia de uma delas. Como exemplos estão duas comédias de 2011 protagonizadas por Adam Sandler e dirigidas por Dennis Dugan. Em Jack and Jill (2011), essa característica se desdobra até no enredo, duplicando Sandler como o representante de cada uma dessas vertentes contraditórias. Em Just Go with It, por outro lado, essa dualidade está sobreposta nos mesmos personagens, que fingem ser o que não são: há uma teia de mentiras em busca de prestígio e de conquistas.
Just Go with It começa com um prólogo em que aparece um Danny (Sandler) farsesco e traumatizado no casamento, estabelecendo o padrão de um “golpe” que conduzirá sua vida pessoal. O “personagem” do personagem, usado para impressionar mulheres, é justamente a figura do prestativo marido/pai de família. A operação moral até o fim da trama, então, é fazer esse “bom moço”, encenado ardilosamente pelo cirurgião plástico, tornar-se predominante, isto é, a base do seu eu. Nesse sentido, essa comédia de costumes caminha, gradualmente, para os desabafos e a restauração familista. Todavia, no percurso, Just Go with It apresenta algumas situações interessantes e várias piadas afiadas. Inclusive as crianças do filme possuem a construção mais eficiente com a premissa, pois elas não são perpassadas pela rigidez metafísica dos adultos: embora imaturas, elas são interesseiras, carinhosas e malandras de maneira fluida e unitária.
Além disso, é possível fazer um paralelo de Just Go with It com 50 First Dates (2004), de Peter Segal, e I Now Pronounce You Chuck & Larry (2007), de Dennis Dugan. Nas três comédias há a redenção de um solteiro, feito por Sandler, através do amor romântico. Uma vida intensa de anarquia relacional encerrada pela mocinha da vez. No caso de Just Go with It, emerge duas mulheres com potencial para essa posição — Katherine (Jennifer Aniston) e Palmer (Brooklyn Decker) —, mas o desenvolvimento do enredo confirma a primeira no típico plot amoroso.
Naquilo que Just Go with It propõe, cumpre seu objetivo. A fórmula não dá o passo necessário para a arte realista, mas apresenta uma inclinação nesse sentido, de forma fugaz. O tema da dissimulação como mecanismo de defesa reflete algo que ocorre na nossa forma de sociabilidade.
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