(dramédia,
USA/KOR, 2025)
de Bong Joon Ho.
por Paulo Ayres
Ainda que seja tentador falar que Mickey 17 é um tipo de fusão entre os folhetins Starship Troopers (1997) e The Sixth Day (2000), há algo nele que transcende a junção simples das temáticas de clonagem humana e de colonização espacial. A ideia que adiciona uma complexidade para o bem e para o mal é revelar que cada filhote dos seres rastejantes não é um mero filhote, mas um bebê. Apesar da aparência de tardígrados, longe da figura humanoide, as criaturas se mostram como uma esfera do ser social. Os terráqueos colonizadores até desenvolvem um tradutor para a comunicação social entre as espécies. Com o rompimento da iniciativa pacífica dos nativos, uma lei de talião interplanetária avisa que é olho por olho, dente por dente.
O clímax da dramédia de Bong Joon-ho apresenta planos abertos na tempestade de neve e os seres do planeta gelado Niflheim estão atiçados como marimbondos. Nesse momento, o enredo destaca a conciliação particular dos dois clones feitos por Robert Pattinson como um embrião de algo maior parecido com um missão diplomática. A ficção espacial, a partir daí, desemboca a questão alardeada dos “múltiplos” — clones adultos que, por alguma razão, não surgem pela eliminação do corpo anterior, acumulando entes idênticos. Esse acúmulo traz implicações éticas para o universo retratado, mas, diante de um programa biológico chamado de Descartáveis, as medidas tomadas pelas autoridades são cruéis e pragmáticas.
O herói duplicado de Mickey 17 é o que dá nome ao filme e mais o Mickey 18. Com a vida poupada pelos creepers, Mickey 17 se depara com sua versão mais nova, numa linha de história com desentendimento seguido de aliança. Primeiramente, é interessante notar como a encenação de Bong coreografa corpos em deslocamento no ambiente, em lutas corporais que aprofundam os conflitos da trama. Pense-se, por exemplo, no entrelaçamento de pernas que a agente Nasha Adjaya (Naomi Ackie) dá no pescoço da dondoca vilã Gwendolyn (Toni Collette). Ou, também, como um perrengue cresce quando algum sujeito se esforça para não ser jogado num incinerador de funcionários descartáveis. A frieza do ambiente externo parece distinta nesses momentos internos em que o descarte fervente é um símbolo máximo da coisificação de pessoas e da frieza classista.
Diferente dos conflitos com ausência de vilões que há em Gisaengchung (2019), Bong cri um vilão grandiloquente em Mickey 17. Kenneth Marshall (Mark Ruffalo) almeja compensar a derrota na eleição política entrando para a história como liderança na colônia espacial. (...)
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Lista de sci-fi dramedy no subgênero space fiction:
- Bens usados
- Obsolescência programada
- Determinismo voluntário
- Função monótona
- Interação intencional
- Órbita circular
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