quinta-feira, 18 de abril de 2024

Disciplina escolar

Project Almanac 

(dramédia,
USA, 2015),
de Dean Israelite.
 

 
por Paulo Ayres

Um filme do ano de 2015 que tem “almanaque” no nome? Não pode ser só coincidência. Parece uma referência a um dos momentos mais criativos em que o cinema de ficção científica fala sobre viagem no tempo e realidades alternativas: Back to the Future II (1989). Não é somente o melhor filme da trilogia de Robert Zemeckis, mas é também uma sátira realista, pois não romantiza e deixa as pontas soltas. Bem diferente da encenação comediesca de Zemeckis,  Project Almanac produzido por Michael Bay e dirigido pelo estreante Dean Israelite é um drama found footage. Isso quer dizer que, assim como The Blair Witch Project (1999) simulava uma filmagem real feita com câmera caseira, este filme se apresenta, na aparência, como um vídeo “encontrado” sobre um misterioso projeto científico. Entretanto, mesmo sendo encenado com um cuidado quase documental, numa montagem às vezes frenética e claustrofóbica, Project Almanac se assume como um teen movie no sentido clichê que essa classificação evoca como uma tradição.
 
A dramédia tem como base a família de dois irmãos adolescentes, David e Christina Raskin — o protagonista geek e a cinegrafista —, que descobrem um projeto secreto e governamental do seu falecido pai sobre uma máquina do tempo. Depois de montada a máquina, o grupo juvenil (os dois irmãos mais três amigos) passa a consertar pequenos deslizes do passado recente, subvertendo o ambiente high school em favor do grupo de “rejeitados”, até que estes impopulares reinem soberanos. Além disso, como era de se esperar, a segunda chance inclui ficarem ricos através da loteria. Project Almanac se mantém ousado enquanto ironiza as respostas a um determinado cotidiano tipificado. Deste modo, é necessário se deter numa diferenciação na análise da obra: a questão da imaturidade. Ela é totalmente válida nas ações das personagens porque são representações da média de consciência da nossa forma sociabilidade e com as questões próprias de seu ambiente e faixa etária. Outra dimensão é a imaturidade estética que há na abordagem de um drama edificante.
 
O festival Lollapalooza é um divisor de águas na techno-dramedy e parte da farra é subir ao palco com a banda Imagine Dragons. Sem fazer parte dessa trilha sonora da MTV Films, a analogia que há na canção brasileira Primeiros Erros, de Kiko Zambianchi, ilustra o que ocorre no enredo: na busca por deixar a vida cada vez mais ensolarada, luminosa, as coisas saem do controle e as chuvas se tornam tempestade. O que, até certa parte, tem um clima bem interessante de experimento secreto e na investigação da sinistra aparição numa antiga filmagem de aniversário, torna-se um cada vez mais inverossímil no registro onipresente da simulação de câmera caseira. Vai entrando no foco desse registro a intimidade do protagonista, não no sentido de imagem erótica, mas de educação sentimental mais comportada e banal. Na última parte, David está na correção dos efeitos colaterais desastrosos e, nesse sentido, isso passa a soar como a ressaca e a limpeza de uma casa após uma festa juvenil.
 
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Lista de sci-fi dramedy no subgênero techno-fiction:
[0] Primeiro tratamento: 21/05/2020.
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