BRA, 2001),
de Sandra Werneck.
por Paulo Ayres
A canção “Dueto”, de Chico Buarque e em regravação com Zizi Possi, indica, já nos créditos iniciais, o conteúdo que será desenvolvido em Amores Possíveis. O filme, contudo, potencializa a ideia apresentada ao se ramificar em diferentes caminhos, ilustrando a complexidade de escolhas dos indivíduos sociais. O ponto de partida está numa noite chuvosa em que Carlos (Murilo Benício) é deixado sozinho no cinema porque Júlia (Carolina Ferraz) não comparece ao encontro. Aí a realidade que vemos se desdobra em três dimensões paralelas, expondo o que ocorre quinze anos depois deste episódio.
A dramédia de Sandra Werneck se diferencia dos filmes água-com-açúcar justamente por esse desejo de colocar na tela o fato de que as atitudes não estão predeterminadas. Na esfera do ser social, causalidade e intencionalidade se mesclam gerando uma grande margem imprevisível de situações cotidianas — diferente da menor variação nos dois níveis ônticos mais básicos: ser inorgânico e ser vivo. É claro que, mesmo na camada mais imediata de decisões, as coisas não vão para muito longe, pois há sim um conjunto de determinações que delimitam as ações. Há um leque de alternativas concretas e próximas. Os três futuros de Carlos apresentados no filme são: 1) Carlos se casou com outra mulher, Maria (Beth Goulart); 2) Casou-se com Júlia mesmo, mas a deixa e fica com Pedro (Emílio de Mello), amigo de trabalho; 3) Carlos não se casa e mora com a mãe (Irene Ravache). Entretanto, Amores Possíveis faz questão de desestabilizar cada realidade com a presença de Júlia na vida de Carlos, deixando aberta a leitura de certa ingenuidade idealista.
Essa montagem paralela traz vantagens e desvantagens. Especialmente para quem está vendo o drama edificante pela primeira vez, pode haver dificuldade de situar cada dimensão, visto que as mesmas personagens estão em circunstâncias distintas. Por isso, Werneck pesa a mão na caracterização para indicar a variabilidade social e isso soa um pouco como o fetiche da liberdade. O Carlos solteiro, festeiro e mulherengo quase parece outro personagem porque a performance de Murilo Benício realça a caricatura com essas características. Já a amargura da Júlia na realidade em que tem um filho com Carlos está no ponto certo em que mostra as contradições de sentimentos na sociabilidade monogâmica — aliás, é essa dimensão alternativa que dá ao filme de Werneck um charme e um algo a mais na média de dramas sobre relações afetivas, não só por haver um casal gay, mas por evidenciar as limitações nos núcleos familiares e no pensamento binário.
Um filme, por sua vez, também é feito de escolhas. E Amores Possíveis escolhe encerrar sua tripla história com o mundo do Carlos solteiro, pois é ali, onde menos se esperaria, que tudo toma o rumo mais clichê com Júlia, confirmando a tendência do destino amoroso traçado de antemão. Também confirma que é uma dramédia mágica quando a tela do cinema e a realidade se fundem. A fotografia carregada de Walter Carvalho parece mais adequada a este universo superficial, sem contradições profundas. Por outro lado, a existência de outros futuros após uma ida frustrada ao cinema, indicou também que as sequências podem se apresentar de formas diferentes, mesmo mantendo um grupo de pessoas num determinado círculo de proximidade.
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Lista de fantasy dramedy no subgênero magical fiction:
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