The Nun
(folhetim,
USA, 2018),
de Corin Hardy.
por Paulo Ayres
Ainda não lançaram o quarto The Conjuring, mas esse universo ficcional parece ter pouco a oferecer. Não só isso: os spin-offs são comparativamente mais interessantes que a enfadonha linha principal, que usa como muleta apelativa ser “baseado em fatos reais”, resultando em dramas espiritualistas com uma aura ridícula de autoimportância. Pois bem, quando um determinado universo tem pouco a refletir, a melhor opção sempre será empurrá-lo para um grau maior de satirização — isto é, o distanciamento da dramatização —, até que as particularidades da abordagem satírica atenuem a sua comentada petulância. Esse é o caso do primeiro The Nun, um folhetim que padece dos mesmos vícios dos tríleres prestigiados, mas tem a seu favor uma estilização dinâmica.
Com um enredo religiosamente maniqueísta e que não articula o mal demoníaco como metáfora para algo que não seja o mal demoníaco mesmo, Corin Hardy dirige o seu filme como um exercício predominantemente imagético, mostrando-se um diretor versátil nas tomadas, variando bastante os ângulos de enquadramento. Por outro lado, a narrativa é conduzida com certa pressa, impossibilitando os respiros necessários para criar o clima envolvente de tensão. Há uma velocidade acelerada que mata o tempo do suspense em The Nun. Nesse sentido, um belo cartão de visitas, na primeira parte da sátira edificante, é a piada visual do engano das bagagens, colocadas no veículo errado pelos visitantes. Como exemplo do aspecto negativo, contudo, toda a sequência da aparição fantasmagórica em forma de menino, perseguida pelo Padre Burke (Demián Bichir) durante a noite. Mal surgem esses vestígios misteriosos à espreita e rapidamente vamos, junto com o sacerdote investigador, para a área externa e, logo mais, dentro de um caixão, dentro de uma cova. De maneira tão veloz que chega a ser anestesiada.
O resultado não é outro: essa abadia localizada no interior da Romênia, em 1952, serve como uma espécie de trem fantasma, câmara do horror de parque de diversões. A temática aqui é o catolicismo e, em particular, os adereços do sacerdócio de freiras, como hábitos, cruzes, rosários, estátuas de santos. O fato de que essas coisas estejam associadas com a assombração e a maldade é explicado da maneira mais banal possível: foi uma apropriação cultural de uma poderosa entidade maligna cujo portal está naquele lugar. Nada de alegoria sobre as contradições modernas dessa expressão de religiosidade. No começo desse fantasy feuilleton, há até uma falsa insinuação de que a noviça Irmã Irene (Taissa Farmiga) vem trazer questionamentos para esse âmbito — ainda mais que há Frenchie (Jonas Bloquet) como um guia e um alívio cômico — mas, no fim, ela estará deitada de bruços, confirmando seus votos religiosos, para se tornar uma guerreira da Igreja Católica contra as forças do mal simbolizadas pelo pentagrama. Enfim, essa obra dispendiosa está na contramão do que as sátiras B do Nunsploitation costumavam fazer.
The Nun seria uma bomba se fosse encenado como um drama. Como protodrama (folhetim), ao menos, perdemos uma hora e meia num passeio divertido de atração horrorífica que abusa do jump scare.
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Lista de fantasy feuilleton no subgênero supernatural fiction:
[0] Primeiro tratamento: 04/10/2021.
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