Christine
(folhetim,
USA, 1983)
de John Carpenter.
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por Juliana Fausto
Contracampo/2002
Baseado em um livro [1983] de Stephen King, Christine é, como grande parte da literatura desse autor, mais uma dessas histórias em que um sujeito tímido, apagado e fracote, em suma, um nerd total, depois de uma vida cheia de humilhações consegue finalmente a chance de se vingar. A vingança, no caso de Arnie Cunninghan (Keith Gordon), vem na forma de um carro que ele encontra no quintal de um senhor e acaba comprando; o carro já começa com uma aura de mistérios e mau agouro, tendo sido a causa da ruína de seu antigo dono. Aliás, a sua maldade e parte com o sobrenatural já nos é mostrada antes, quando mesmo da sua feitura: na linha de produção, mata um trabalhador da fábrica. Seu futuro dono, porém, nada sabe sobre o ímpeto assassino da máquina e, tendo se sentido fortemente atraído por ela, a compra. Christine, o nome do carro — em inglês carros e aviões em geral costumam ter nomes femininos — passa a exercer um forte poder sobre o rapaz, mudando radicalmente seu modo de ser.
Longe de ser apenas um filme de terror sobre um veículo possuído, o barato de Christine está na transformação que vai sofrendo o rapaz; vivendo em uma cidade meio anos cinquenta, daquele tipo em que bullies abusados provocam os rapazes bobos sem trégua, a mudança de Arnie, que passa de boboca maria-vai-com-as-outras a homem decidido, galã das menininhas, e em uma demonstração de incrível empáfia, ameaça seus pais usando a força física é realmente o centro da trama. E a influência que Christine exerce sobre ele é realmente grande, e, em um certo sentido, boa. O problema é que enquanto Arnie arranja uma namorada e desafia seus pais, isto é, enquanto começa a se impor frente a situações em que se acovardava antes, seu carro vai simplesmente eliminando todos aqueles que se colocam entre ela e seu querido dono, obrigando seu melhor amigo e sua namorada a se juntarem contra o ex-nerd e sua obsessão.
A cena em que Christine se conserta sozinha é ainda hoje impressionante — aliás, para a feitura deste filme diversos modelos Plymouth, carros-fetiche, foram totalmente destruídos, o que teria causado a revolta de diversos colecionadores. Notável também é o artifício que faz com que ela seja capaz de se comunicar: através das músicas que toca em seu rádio. Pois sim, na condição de carro assombrado, ela pode escolher as músicas que toca fora de qualquer estação, e assim dizer, por meio das letras das canções, o que pretende. E também John Carpenter, através do romance de Stephen King, consegue fazer um cinema que é seu, que é único e que parece fortemente ligado, neste caso em especial, a Nicholas Ray — pelo tipo de personagens, principalmente.
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Lista de fantasy feuilleton no subgênero supernatural fiction:
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