
USA/UK, 2014)
de Christopher Nolan.
Em Interstellar, a começar pela poeira que assola a Terra em um futuro distante, passando pelas ondas gigantes que emparedam a linha do horizonte em um planeta de outra galáxia, o uso da natureza como elemento amedrontador é surpreendente, tratando-se deste cineasta, cujas outras tentativas em tal campo sempre se mostraram débeis (Insomnia [2002], por exemplo).
Não há dúvidas de que Christopher Nolan consegue transformar satisfatoriamente em imagem a ideia de uma natureza sempre revolta e pronta para sobrepujar o homem. A poeira etérea é ao mesmo tempo cortina de chumbo e ameaça invisível. É o signo do tempo: o que melhor do que a poeira para materializar essa infinita ampulheta que é o tempo? A pequenez do ser humano, a vagar através do tempo e do espaço, naquilo “o que não é, mas resulta: a indizível dimensão”, como escreveu Vinícius de Moraes, é plenamente retratada na geometria abstrata dos planos da nave cruzando um wormhole ou espiando através de um buraco negro.
O tempo abstrato beneficia, também, a dramaturgia, ao posicionar-se, de maneira clara, no centro da cena, em vários momentos-chave. Ou o pai volta logo para casa, ou irá encontrar a filha em idade muito mais avançada do que a dele, o pai. O recurso das mensagens em vídeo, com a diferença de tempo entre comunicador e receptor, aparece brevemente em Mission to Mars [2000], de Brian De Palma. Ampliado em Interstellar, o conceito gera um dos momentos mais bonitos do filme, em que vemos o destemido piloto interpretado por Matthew McConaughey desmoronar. Alguns atores atingem o ápice da carreira quando os sulcos debaixo dos seus rostos é profundo o suficiente para canalizar lágrimas. McConaughey já tem rugas o suficiente para navegar neste apogeu.
A força ardente e luminosa do longa de Nolan começa a apagar no momento em que a obsessão do diretor por roteiros espertos passa a dar o tom. Ao transformar em literal o que é figurado, ao explicar a quinta dimensão com as velhas amarras planas dos manuais de roteiro, o filme, que prometia (e, em partes, cumpre) uma viagem para universos desconhecidos, termina orbitando aquela “Nebulosa do Amor” sobre a qual canta Herbert Vianna. Nesta obra que debate tanto o eu versus o nós, encerrar a viagem no próprio coração parece um convite para trancar-se nos próprios sentimentos, ao invés de explorar, de fato, a grandeza do desconhecido. O personagem, ao fim, até faz tal viagem, mas não o filme. O amor move o universo. E a física deveria receber mais crédito.
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