Quando se trata de super-heróis que têm origem nas HQs, falar em versões alternativas é o óbvio ululante. Se esse tipo de entretenimento com várias ramificações, literárias, gráficas e audiovisuais, pode ser considerado uma mitologia moderna, então o chamado multiverso é um elemento estabelecido nesses mitos contemporâneos. O Superman pode não ser o primeiro, mas é o carro-chefe que estabeleceu certo padrão e entrou com força na iconografia dos Estados Unidos e, por tabela, de grande parte do mundo. Entre as versões do Homem de Aço, há até uma de Mark Millar, Superman: Red Son (2003), em que a nave espacial chega a União Soviética e, ele, adulto, torna-se um comunista ligado ao Governo Stalin — versão com uma adaptação audiovisual (2020) em animação folhetinesca. Mas esse é apenas um exemplo das propostas variadas de reformulação.
Brightburn não é, digamos, “oficial”, mas as referências são tão salientes que está na cara que é a história do Superman em versão de arte degradante. O space thriller pode ser considerado um tipo de paródia horrorífica para o cinema.
A espaçonave está escondida no celeiro e ela tem um papel ativo em transmitir algum sinal que faz o menino Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) ter percepções de certa missão de conquistar a Terra sem piedade. Em vez de Smallville, há a também pacata Brightburn, no Kansas. O casal de pais adotivos é formado por Tori Breyer (Elizabeth Banks) e Kyle Breyer (David Denman). Com o tempo e as mortes na região, eles notam que o ar sinistro e a rebeldia do garoto de doze anos não são apenas sintomas do processo de entrada na adolescência. Se o Superman é o sujeito que salva um avião em perigo, Brightburn joga uma avião comercial na sua própria casa para bancar um sobrevivente da onda estranha de mortes. E é isso. O movimento narrativo é uma contagem de corpos que se expande cada vez mais.
O drama niilista compete com o drama edificante Man of Steel (2013), de Zack Snyder, em outra contagem: a de equívocos de uma encenação dramática. Brightburn é mais desagradável, mas possui um pequeno aspecto de sensatez na comparação: o indivíduo de capa com superpoderes usa um capuz para preservar sua identidade secreta. O Clark Kent, feito por Henry Cavill, terá a ideia de usar óculos como disfarce civil. Curiosamente, um dos produtores de Brightburn é James Gunn; mas, felizmente, seguindo o estilo de Superman (1978), de Richard Donner, o novo filme do Superman, que ele dirige e lança este ano, possui uma encenação satírica.
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