terça-feira, 24 de junho de 2025

Missão diplomática

 Coming 2 America

(comédia,
USA
, 2021)
de Craig Brewer.

por Paulo Ayres

O enredo de Coming 2 America se passa trinta anos depois do filme (1988) de John Landis. A sequência, dirigida por Craig Brewer, usa o material da sátira anterior como flashbacks da jornada que se tornou um tipo de história idealista em Zamunda, país fictício. Incorporado à cultura local, o relato de como o jovem majestoso (Eddie Murphy) foi para o distrito do Queens, em Nova York, e quebrou uma tradição de casamentos arranjados, trazendo a americana Lisa McDowell (Shari Headley) para ser sua esposa na nação africana.
 
Com a morte do pai (James Earl Jones), Akeem Joffer é o rei recém coroado. Outra tradição patriarcal e monárquica surge como uma pedra no sapato, cuja resolução é a meta de desenvolvimento da trama. O Rei Akeem só possui filhas — a primogênita Meeka (KiKi Layne), Omma e Tinashe —, e, pelo costume, uma mulher não pode ser a sucessora da coroa. Nesse ponto, a comédia estadunidense tem um dilema parecido com a comédia espanhola, Los Japón (2019), que também trata de uma monarquia, a japonesa.
 
Zamunda tem a imagem de um parque temático, como reforça o plano distante mostrando o palácio ao estilo de conto de fadas. A cultura da região é feita como uma síntese de olhar turístico, exterior, de objetos e cerimônias exóticas, com reverência e estranhamento. No entanto, sem se debruçar um pouco sobre os aspectos econômicos e geográficos, o que se conhece é apenas um “quintal” de safári. Há, por exemplo, zebras e um leão (de computação gráfica) no teste de nobreza para o príncipe bastardo, Lavelle Junson (Jermaine Fowler), que veio da América com a mãe. A comédia histórica não mostra imagens de alguma cidade e de uma imensa periferia que deve existir por lá. Por isso, com essa restrição, é criado um contraponto com a nação vizinha, Nexdoria, também fictícia, usando outro material bastante difundido sobre países africanos: a presença de milícias e de governos autocráticos. Wesley Snipes, como o General Izzi, encarna a figura da maldade com farda militar, assediando politicamente o reino de Akeem. Menções ao colonialismo (e ao imperialismo) no continente não existem nessa ficção política.
 
Embora haja a limitação de alcance do objeto satirizado, quando Coming 2 America se deixa levar pela contraditoriedade espelhada, repete o bom resultado do filme anterior. Eddie Murphy e Arsenio Hall, além dos seus personagens centrais, trouxeram de volta a multiplicação de performances embaixo de bastante maquiagem como disfarce. Há a hilária turma da barbearia nova-iorquina, o pastor protestante e o vocalista de uma banda — como bônus, Arsenio Hall se caracteriza de Baba, uma curandeira. A própria monarquia, enquanto forma política, não é totalmente validada pela sátira edificante. Há a ironia em relação às regras machistas, o funeral vaidoso de um rei moribundo e a “imparcialidade” do telejornal local. Além disso, ocorre um ritual diplomático musical em que a influência ocidental, especialmente dos Estados Unidos, mistura uma tradição regional com a aparência de um show de diva pop — apesar de que Bopoto Izzi (Teyana Taylor), de Nexdoria,  simboliza a submissão social e antifeminista. Aliás, as jovens princesas de Zamunda, através da luta corporal, derrotam uma tentativa de golpe de estado. Piada forçada sobre girl power. Mais interessante é o olhar curioso sobre costumes diferentes, em meio a algumas cenografias destacadas e, principalmente, o belo trabalho de figurino que está mais em evidência nessa continuação.

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Lista de historical comedy no subgênero political fiction:

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