Los Japón
(comédia,
ESP, 2019),
de Álvaro Díaz Lorenzo.
por Paulo Ayres
Qual é a proposta humorística da comédia Los Japón? À primeira vista, faz um contraste irônico entre determinadas culturas ocidental e oriental, colocando essa mistura no contexto da monarquia moderna. Na superfície, portanto, é uma sátira edificante sobre a chamada globalização. Uma ficção política esperta que, além do tema monárquico, levanta os assuntos do sindicalismo e do feminismo, ainda que seja da perspectiva centrista da conciliação de classes. Se o reflexo estético ficasse somente nisso seria muito burocrático, cerimonial e asséptico (como a aparência da fábrica transnacional japonesa). Escorre, por entre a combinação internacional retratada, algo além da ironia com uma tradição aristocrática imbricada no mundo moderno e capitalista. O Japão dos últimos tempos é Ocidente, ao menos no sentido geopolítico de Norte Global. Uma contradição real que o filme sinaliza nos detalhes de um intercâmbio político.
Um centro luminoso de Tóquio com bastante entretenimento e comércio, privada com tecnologia de ponta, pegadinha ultrajante da televisão japonesa, tatuagem da Yakuza... O intercâmbio cultural da comédia histórica se serve de clichês, mas à medida que ocorrem, o ponto interessante é o espelhamento de fronteiras borradas. O que é estranho mesmo é que a monarquia continue existindo no capitalismo tardio, principalmente em países centrais. Ainda que alguém lembre que ela está deslocada constitucionalmente nas democracias liberais, a sua manutenção como museu vivo demanda alguma dose de financiamento, prestígio e talvez algum pouco de poder político. Nesse sentido, Paco Japón (Dani Rovira), o operário espanhol, republicano, ateu e de esquerda, faz um rápido comentário sobre a perda de prestígio do então rei de seu país, Juan Carlos.
Um ancestral de Paco foi um samurai de uma família real japonesa e os monarquistas estrangeiros preferem ele e sua família como pedestal de adoração do que Mariko (Maya Murofushi), pois nesse reinado museológico há regras contra uma imperatriz na posição central. Paco é o novo imperador do Japão, mas o filme só o destaca como chefe de família para fazer o estereótipo predominante. Algo como os Simpsons (1989-), que, aliás, também visitaram o Japão em certo episódio. Assim como a animação farsesca, Los Japón ressalta a perspicácia feminina na figura da esposa. Encarni (María León) até assume um papel de liderança na fábrica, depois de ser a principal reformadora da monarquia japonesa. Pena que o filme não coloque essa ideia de aristocracia empoderada como objeto de ironia, mas no clima triunfante de final feliz. É um avanço social no palácio? Uma meditação nos jardins luxuosos talvez nos traga a resposta filosófica.
= = =
Lista de historical comedy no subgênero political fiction:
= = =
Nenhum comentário:
Postar um comentário