quinta-feira, 8 de maio de 2025

Servidor público

Police Academy 
 
(comédia,
USA, 1984)
de Hugh Wilson.
 


por Paulo Ayres
 
Uma comédia política distinta, o primeiro Police Academy se diferencia do restante da franquia — que conta, aliás, com mais seis filmes e duas séries televisivas. Enquanto os filmes seguintes são comédias criminais sobre uma equipe policial investigando e combatendo organizações criminosas, a obra inaugural se concentra no processo de formação dos servidores de segurança pública. Os roteiristas Neal Israel e Pat Proft, nesse sentido, criaram um enredo em que a carreira policial aparece como mais um meio de vida entre tantos empregos. Possibilidade expandida quando a prefeita da cidade flexibiliza as exigências físicas e psicológicas na admissão dos cadetes em treinamento. Contrariado, um oficial de alto comando até se queixa, no início, que a instituição está perdendo a sua aura branca e masculina.
 
O primeiro Police Academy, ademais, reflete a complexidade no papel repressor desse aparelho, quando os recrutas recuam diante de uma parte da população periférica durante o clímax. É uma revolta popular espontânea. Mesmo sem uma orientação política consciente nessa desordem civil, a insatisfação com a autoridade se esparrama como depredações e saques. Evidenciando a pauperização urbana, o motim crescente, aliás, teve seu estopim com o Cadete Fakler (Bruce Mahler) “agredindo sem querer” durante a patrulha. E quando o Cadete Barbara (Donovan Scott) tem a sua aguardada revanche com os caras que fizeram bullying no seu trabalho anterior, não há nenhuma “honra”, mas erro de abordagem policial.
 
Como boa sátira edificante que é, Police Academy cria um time diversificado, que serve tanto como representantes caricatos em vários níveis, como também, aproxima humanamente essa parcela da classe servidora. Há desde um florista superforte (Bubba Smith), um beatbox destacado (Michael Winslow), uma garota rica (Kim Cattrall), um amante latino (Andrew Rubin) até uma pequena delicada (Marion Ramsey). Por outro lado, há dois cadetes puxa-sacos e racistas, zombados pela narrativa como entulhos, peças ultrapassadas. A “geração” do Cadete Mahoney (Steve Guttenberg) significa uma atualização de costumes e expõe determinadas contradições essenciais contidas nessa mediação social de segurança e na sociedade em geral. Em vista disso, os dois serviços da meretriz ilustram aquilo que está oculto nos protocolos e honrarias.

Assim como as insubordinações de Mahoney, tentando ser dispensado da academia, há uma certa dosagem na indisciplina que os realizadores estão dispostos a sustentar na tela. O filme de Hugh Wilson se uniformiza na fachada idealizada e nas continências para prestar. Com isso, a música tema de Robert Folk — proeminente e que lembra as marchas dos temas famosos de John Williams — também funciona como a reverência coexistindo com o lado ridículo. Sim, por mais que haja deboche na ficção histórica, também não deixa de ser uma propaganda de recrutamento aos interessados.

= = = 
Lista de historical comedy no subgênero political fiction:
[0] Primeiro tratamento: 03/06/2021.
= = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário