de Eddie Romero.
por Paulo Ayres
Nas margens de uma sociedade ocorrem cotidianos e violações de naturezas distintas, embora todas as transgressões jurídicas sejam enquadradas em algum grau formalizado de ilegalidade. Há gente que na ânsia de denunciar o sistema faz generalizações que não se sustentam, como enxergar a política em cada manifestação da reprodução social e, nesse sentido, falar que cada prisioneiro do estado é um preso político. Expressões ideológicas estão em cada canto, a política, certamente a mais destacada, é apenas uma delas.
Essa introdução serve para situar o momento predominante do filme Black Mama, White Mama. Trata-se de um folhetim político em sua temática, pois esse elemento aparece com mais peso no enredo, que, também, desenvolve o núcleo sobre o crime organizado envolvendo cafetões e narcotraficantes. A dupla feminina que protagoniza a obra é formada pela negra Lee Daniels (Pam Grier) e a branca Karen Brent (Margaret Markov). A prostituta e a guerrilheira. Acorrentadas pelos pulsos, elas fazem o conhecido percurso de não ir uma com a cara da outra, até que desenvolvem uma parceria amistosa no trajeto. Um ponto interessante é que, mesmo havendo alguma possível admiração mútua, elas continuam firmes em seus propósitos de vida, indicando um núcleo sólido nas suas formações ideológicas que adquiriram durante as respectivas vivências. Uma é de origem pobre e mais sofrida, com o olhar voltado para conseguir alguma grana do submundo e fugir do lugar. A outra, garota mais abastada, vê o sentido da vida em se juntar com os revolucionários da esquerda armada.
O país tropical (filmado nas Filipinas) que há nessa sátira realista oferece uma amostra que evidencia a conexão entre a sociedade capitalista e a estrutura patriarcal. A abordagem apelativa que é típica do Exploitation Cinema está cumprindo bem o seu papel. Além disso, a ficção histórica de Eddie Romero acolheu pitadas temáticas que não afirmam nenhum subgênero específico: women in prison, blaxploitation, sexploitation, nunsploitation... Essa sátira B consegue, na medida do possível de seu baixo orçamento, equilibrar a carência de recursos e a abundância de compensação cínica. Tal como as duas mulheres, representando mais que uma união inter-étnica, é uma aliança tática entre figuras marginalizadas da reprodução social e no contexto particular da Guerra Fria.
Tudo indica que a reta final do folhetim reflete uma crítica ao foquismo — mesmo se não for essa a intenção dos realizadores. Lee consegue escapar para tentar uma vida nova, Karen e parte dos guerrilheiros são assassinados. Análise concreta da situação concreta, a guerrilha de resistência pode ser um movimento legítimo e coerente em determinados contextos. Em outros, no entanto, pode se revelar como uma das expressões do anticapitalismo romântico. Vai depender do sucesso, pois, certas vezes, é um tipo de manifestação que só pode ser confirmada post festum. E é justamente nessa esfera marginal que certas figuras criminais e políticas estão bem próximas, não conseguindo adentrar no centro do sistema.
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Lista de historical feuilleton no subgênero political fiction: = = =
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