quinta-feira, 19 de junho de 2025

Segurança nacional

 The Iron Giant

(comédia,
USA, 1999)
de Brad Bird.
 
 
por Paulo Ayres

Animação norte-americana recente, The Wild Robot (2024) de Chris Sanders, é sobre a robô Roz (voz de Lupita Nyong'o) e se perde numa floresta. Passagens de futurologia estão lá, mas subordinadas esteticamente à velha fórmula de ficção fantasiosa com animais falantes e levemente antropomórficos. A “caixa” parece ficção científica, mas o produto não é. Diferente da comédia mágica da DreamWorks, The Iron Giant é uma comédia espacial da Warner. Feito no formato tradicional de sátira animada, o filme se consagrou como um clássico solitário, sem continuações ou seriado. Passagem meteórica de uma obra chamativa. Nem tanto pelos traços que lembram o estilo clássico da Disney, mas por justamente adaptar uma sátira literária (1968), de Ted Hughes, com elementos bem delineados de uma quadra histórica dos Estados Unidos.
 
Numa pequena cidade do Maine, em 1957, vindo do espaço sideral e sem explicação de origem, surge um robô gigante (voz de Vin Diesel). A Guerra Fria alimenta receios, paranoias e também a arte ficcional, com destaque para o horror atômico e a invasão alienígena. A dúvida que paira no ar é que talvez seja um alienígena no sentido de “estrangeiro”, e, mais especificamente, soviético. Desconhecendo a origem do visitante espacial, o ponto é que a maior potência geopolítica busca a segurança nacional em primeiro lugar.
 
A amizade do Gigante de Ferro e o menino Hogarth Hughes (voz de Eli Marienthal) tem algo de E.T. (1982), de Steven Spielberg, mas a temática que o diretor Brad Bird abraça é a referência às ficções científicas do período retratado, com o contexto político ecoando no fundo e sem fazer alardes. O foco da comédia está na interação dos dois amigos e, em seguida, como as autoridades ficam alvoroçadas como abelhas numa colmeia.
 
Mecanismo de defesa em duplo sentido: quanto mais bordoada o Gigante de Ferro recebe dos terráqueos, mais reage como uma arma perante os ataques; por fim, almeja um sacrifício redentor ao estilo do Superman. Enquanto um agente governamental se hospeda na casa de Hogarth — que mora com a mãe que é garçonete, Annie Hughes (voz de Jennifer Aniston) —, o alienígena se esconde e faz sua refeição no ferro velho do futuro padrasto do piá. Nesse círculo estão contidas as dimensões formais e afetivas, que a sátira edificante movimenta com a desenvoltura do romantismo crítico.
 
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