Gladiator II
(tríler,
USA/UK, 2024)
de Ridley Scott.
USA/UK, 2024)
de Ridley Scott.

por Paulo Ayres
O fantasma de Maximus (Russell Crowe) não chega a aparecer em Gladiator II, mas sua presença está incluída em menções e flashbacks. O general tornado gladiador, que realiza o sacrifício redentor no primeiro filme (2000), era o responsável pelo toque sobrenatural bem discreto. Tão discreto que deixa em aberto a leitura se ocorreu de fato ou é sua imaginação no momento da morte. Pela imagem dos Campos Elísios ter certo destaque no início e no fim, conclui-se que o entendimento mais enfático é Gladiator como ficção fantasiosa. Em Gladiator II, também ocorre algo parecido. No entanto, as breves passagens sobre o suposto além destacam a coloração cinzenta.
O que o novo tríler épico de Ridley Scott tem de mais interessante é certa proposta, com um quê metalinguístico, de aprofundar o espetáculo anterior como entretenimento popular. O que antes encheu os olhos com direito a biga e tigre no Coliseu, agora torna-se um circo sádico com a participação de um guerreiro montado num rinoceronte e, depois, um horror aquático com tubarão e barcos colidindo. Lembrando que, no contexto de ficção fantasiosa, essa historiografia transbordante não gera problemas. Pelo contrário, potencializa os recursos metafóricos.
O novo gladiador principal, Hanno (Paul Mescal), aumenta a rebeldia à la Spartacus, mesmo sendo o filho desaparecido de Lucilla (Connie Nielsen). Ela, por sua vez, é filha do imperador e filósofo Marcus Aurelius, que escreveu Meditações. Em Gladiator II, nos momentos de reflexão e de discursos imponentes, um pouco do estoicismo continua em diálogos. Entretanto, também há as contradições em meio a frases como “o que você faz em vida ecoa na eternidade”. Macrinus (Denzel Washington), o principal político vilão desse episódio, aponta para seu passado escravo. Seja no apogeu da pólis grega ou numa decadência romana, o modo de produção escravista é a contradição mais saliente entre outras. Isso não anula os aspectos de conquistas culturais e políticas de determinadas formações sociais, mas revela a limitação real da universalidade de algo como o complexo ético.
Os imperadores nesse filme são dois jovens irmãos. Pela iconografia da Roma retratada, é uma versão decadente do mito de Rômulo e Remo. Como contraste maniqueísta dessa dupla, além do lutador protagonista, há o General Acacius (Pedro Pascal) no drama edificante.
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Lista de fantasy thriller no subgênero epic fiction: = = =
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