(tríler,
USA, 2019)
de Alexandre Aja.
por Paulo Ayres
Drama edificante dirigido pelo competente francês Alexandre Aja, Crawl oferece uma boa narrativa de apreensão crescente e sucessiva num espaço residencial. Além disso, consegue transmitir profundidade na sensação de vulnerabilidade e destruição, em sincronia com o aumento do nível da inundação. Até aí tudo bem, reconhecer isso é chover no molhado. O ponto mais considerável é falar sobre a parte em que suas águas são rasas.
O eco-thriller é, no fim das contas, um manifesto familista de resistência e reconciliação em que uma cidadezinha da Flórida, ou, mais precisamente, um determinado lar (contrastado numa fala com a perecível casa) se transforma numa metáfora de desagregação. O furacão e os crocodilos destroem o lugar literalmente, mas simbolizam a desarmonia que fracionou determinada família nuclear. Deste modo, Dale (Barry Pepper), o pai caído num porão insalubre, só se redime quando se reabilita como o coach ontológico de sua filha Haley (Kaya Scodelario). A jovem nadadora só poderá conseguir os milésimos de segundos que lhe faltam para sobreviver e “vencer” na sociedade capitalista com o suporte afetivo-disciplinar do genitor. Nessa visão, o espaço extrafamiliar é tão caótico que as fronteiras entre o seres se diluem na tempestade: os bióticos predadores e a blitz policial (social), por exemplo, possuem o mesmo estatuto ôntico enquanto barreiras contornáveis de uma corrida com obstáculos.
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