terça-feira, 17 de outubro de 2023

Nado sincronizado

Crawl

(tríler,
USA, 2019)
de Alexandre Aja.



por Paulo Ayres

Drama edificante dirigido pelo competente francês Alexandre Aja, Crawl oferece uma boa narrativa de apreensão crescente e sucessiva num espaço residencial. Além disso, consegue transmitir profundidade na sensação de vulnerabilidade e destruição, em sincronia com o aumento do nível da inundação. Até aí tudo bem, reconhecer isso é chover no molhado. O ponto mais considerável é falar sobre a parte em que suas águas são rasas.
 
O eco-thriller é, no fim das contas, um manifesto familista de resistência e reconciliação em que uma cidadezinha da Flórida, ou, mais precisamente, um determinado lar (contrastado numa fala com a perecível casa) se transforma numa metáfora de desagregação. O furacão e os crocodilos destroem o lugar literalmente, mas simbolizam a desarmonia que fracionou determinada família nuclear. Deste modo, Dale (Barry Pepper), o pai caído num porão insalubre, só se redime quando se reabilita como o coach ontológico de sua filha Haley (Kaya Scodelario). A jovem nadadora só poderá conseguir os milésimos de segundos que lhe faltam para sobreviver e “vencer” na sociedade capitalista com o suporte afetivo-disciplinar do genitor. Nessa visão, o espaço extrafamiliar é tão caótico que as fronteiras entre o seres se diluem na tempestade: os bióticos predadores e a blitz policial (social), por exemplo, possuem o mesmo estatuto ôntico enquanto barreiras contornáveis de uma corrida com obstáculos.

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[0] Primeiro tratamento: 29/09/2019.
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