segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Universo paralelo

Jumanji:
Welcome to the Jungle
 
(comédia,
USA, 2017),
de Jake Kasdan.
 

 
por Paulo Ayres

Ao cotejar duas gerações de jovens, Jumanji: Welcome to the Jungle ressalta as diferenças na moda e no grau tecnológico, mas busca uma linha de continuidade que une essas variações temporais de uma mesma sociedade. O contraste entre o jogo de tabuleiro e o jogo de videogame da era online, nesse sentido, significa tanto o manjado update roliudiano de um filme antigo (1995), como também a conexão do que seria essencial em meio a tantas mudanças aceleradas durante as últimas décadas. Aí não tem defesa da comédia de Jake Kasdan: ela se joga do penhasco para a ideologia familista — e o final redentor no subúrbio deixa isso claro. Por outro lado, nem tudo favorece esse movimento e é quando assume a frivolidade do escapismo, isto é, o seu movimento de fuga (não a da trama, em busca da saída desse mundo paralelo, mas a própria construção cínica dele), que essa sátira edificante revela camadas de interesse na sua dissertação sobre a questão da identidade do indivíduo social... em tempos de Instagram. Na nova versão há, inclusive, um quê de ficção científica, mas os fundamentos continuam de ficção de fantasia.

Os estereótipos de quatro adolescentes dos anos 2010 são, na verdade, eles próprios os avatares que os outros atores adultos buscarão os trejeitos, subvertendo o gênero temático da aventura na selva. Toda a graça do filme está justamente nessa proposta de sobreposição para a identificação teen, mas a graça maior é que há um vácuo entre um sermão e a própria encarnação dessa realidade alternativa. O casal nerd, por exemplo, só conseguirá a autoconfiança, para ter mais atitude em sua vida cotidiana, quando se materializa em corpos de gente “gostosa” (Dwayne Johnson e Karen Gillan). Essa manobra imagética, que é a própria razão de ser de Jumanji: Welcome to the Jungle, imprimi-se com tanta ou mais força do que o discurso sobre trabalho em equipe e sobre superar os seus medos e vícios. Ou seja, é incoerente e também irônico que haja uma coexistência contraditória entre a postura meramente escapista e a postura moralista. É por isso que a melhor ideia da fantasy comedy — fazer Jack Black encarnar Bethany Walker, uma patricinha — é aparentemente gratuita em suas intenções comediescas, mas gera mais pontos reflexivos em suas pontas soltas e coadjuvantes, com direito a tensões sexuais inusitadas.

Esse Jumanji também pode ser lido como o prelúdio de uma nova geração que terá o seu lazer direcionado para espaços virtuais como o Metaverso de Mark Zuckerberg. Porém, nesse caso, a metáfora ficou ambígua, havendo indícios de problematização e um certo repúdio, no texto direto, enquanto há uma exaltação entorpecente no seu próprio desenvolvimento.

= = =
Lista de fantasy comedy no subgênero epic fiction:

[0] Primeiro tratamento: 30/11/2021.
= = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário