The Holiday
(dramédia,
USA/UK, 2006),
de Nancy Meyers.
por Paulo Ayres
Nancy Meyers é uma cineasta engajada em construir uma filmografia de celebração do feminismo liberal. Ate aí, normal, incontáveis sátiras edificantes podem levar essa classificação. O problema de The Holiday é que, assim como em Something's Gotta Give (2003), Meyers não está interessada em satirização. Quer encenação com alguma profundidade audiovisual. Fez mais um drama na carreira. Deste modo, suas dramédias representam uma tentativa de dar requinte a um material patético e conservador — em momentos assim, percebemos que o liberalismo social também é conservador no sentido amplo do termo.
Representante da linhagem capenga de filme natalino, The Holiday é sobre uma troca de casa internacional. A estadunidense Amanda Woods (Cameron Diaz) e a inglesa Iris Simpkins (Kate Winslet) trocam de residência nas férias de dezembro após suas crises amorosas. O que é frustrante nessa trama aguada é que a crise afetiva digna de nome está apenas no ponto de partida. Há até uma traição descoberta, mas Meyers não está muito interessada nisso, buscando somente uma ruptura e mola propulsora para contar a historinha inofensiva de romance que lhe interessa. A grande questão que The Holiday molda é: será que um novo casal vai se afirmar? Multiplique isso por dois e temos uma montagem paralela alternando a duplicação da banalidade.
Como se fosse uma dissertação, o drama edificante começa com comentários sobre a afetividade até com citações de Shakespeare, mas não se dá conta de um detalhe fundamental: o amor burguês, na época do grande dramaturgo, era algo revolucionário; situação bem diferente dos dias de hoje. Nesse sentido, Meyers quer mostrar o equilíbrio da vida pessoal com a profissional de mulheres empoderadas, mas não é nada mais que a absorção de uma tradição monogâmica na agenda contemporânea de trabalho. Isso é simbolizado de forma pueril — para um drama — na falta de lágrimas de Amanda e no excesso delas por Iris. O intercâmbio do luxo de Hollywood com um mundo idílico de casinha — ou casinha dentro da casinha, quando surge uma isca meiga e maternal com as duas sobrinhas de Iris.
É por isso que o subplot, simples, do velho roteirista aposentado (Eli Wallach), sendo incentivado e se preparando fisicamente para ser capaz de subir alguns degraus, é a coisa mais interessante que a dramédia de costumes tem a oferecer. E, por mais que Iris tenha subido alguns degraus metafóricos, ela também estaciona triunfante lá embaixo. É como se as narrações de trailer na mente de Amanda, indicando sua face workaholic, fossem sinais de uma força maior direcionando os rumos previsíveis. Antes de cumprirem o destino de serem cunhadas, as duas só interagem pela voz na divertida cena do cruzamento de ligação telefônica. Ali percebemos que esse material de Meyers poderia ser mais ousado e picante, em vez de ir pelo caminho hediondo do conto de fadas moderno e dramatizado.
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Lista de historical dramedy no subgênero fiction of manners:
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