
por Paulo Ayres
Como escrever sobre o mais recente filme de The Lord of the Rings quando o comentador não leu nenhuma prosa de J. R. R. Tolkien e nem viu nenhuma das adaptações audiovisuais? Levando em conta essa ignorância em relação aos universos ficcionais, todavia, é possível contemplar The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim como uma totalidade própria, tendo um valor em si mesmo. Uma ficção épica como outras em que o espectador vai entrando em contato no desenvolvimento do enredo. Percebi que os anéis, centrais na saga principal, aqui são apenas referências irrelevantes e que o famoso mago Gandalf aparece no final, como validação da obra com um suposto ícone ficcional da cultura pop.
Essa aproximação analítica do filme, por mais que desconheça detalhes e a própria posição geográfica do reino retratado, nesse mundo medieval paralelo, permite constatar certa continuidade e descontinuidade de The War of the Rohirrim em relação aos filmes. É o mesmo universo da adaptação que Peter Jackson criou e gerou duas trilogias — The Lord of the Rings (2001-2003) e The Hobbit (2012-2014) —, porém, acontece cronologicamente duzentos anos antes dessa linha de destaque. Outra característica importante é essencialmente distinta dos demais quanto a forma, pertencendo a outro gênero ficcional. Os filmes de Jackson e a série televisiva (2022-) — assim como a prosa de Tolkien, aliás, — são dramas. The War of the Rohirrim, enquanto animação, é uma sátira. Por mais que uma HQ e um desenho animado se esforcem pela seriedade, sobriedade e ar de nobreza — e aqui esse ar está no nível sufocante — chegam ao máximo na reprodução folhetinesca.
A direção do japonês Kenji Kamiyama, que contém uma filmografia de animes, comanda a sátira edificante no estilo de desenho oriental. Inclusive a guerreira principal, Héra (voz de Gaia Wise), possui os olhos grandes e que brilham sutilmente nos momentos de emoção. Quanto ao capricho na composição das paisagens naturais e nos arredores do castelo, é preciso reconhecer o mérito climático do ambiente. Chega a nevar em certo momento, como se fosse um sinal mandado por uma divindade — não faço ideia se nesse universo há a presença de deuses.
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Lista de fantasy feuilleton no subgênero epic fiction:
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