por Paulo Ayres
Assim como as próprias cores possuem um espectro de tonalidades, o uso desses elementos na arte audiovisual podem ocorrer com várias propostas de intervenção receptiva do conteúdo desenvolvido. A localização, a intensidade e a variação podem ser discretas ou atuar diretamente no significado ficcional. É possível ver as cores emergindo como mais do que um componente de fundo. Quem não se lembra do tríler estadunidense Traffic (2000) usando três filtros de cores, bem distintas, para cada trama e como perspectiva de lugar? O filme chinês Ying Xiong também coloca uma paleta de cores no entendimento direto, mas de uma maneira que cada demão de tinta organize a mesma sátira em versões diferentes.
No centro do folhetim épico estão o Rei de Qin (Daoming Chen) e o guerreiro Sem Nome (Jet Li). Frente a frente, as duas figuras parecem potenciais componentes de um duelo que pode ou não ocorrer. Uma suspensão verbal interessante é vista, com certa frequência, em ficção de fantasia de estilo oriental. A ideologia de sabedoria paciente é tão importante quanto as lutas mirabolantes. E o diretor Zhang Yimou usa (e abusa de) uma porção dessa lutas em contemplação lenta, além de um aspecto cosmético, como, por exemplo, a cena do lençol com a pupila Lua (Ziyi Zhang), parecendo uma publicidade de perfume ou algo do tipo.
A primeira versão do ocorrido, que Sem Nome traz para o conhecimento do rei, destaca o vermelho dos conflitos passionais entre Espada Quebrada (Tony Leung Chiu Wai) e Neve Voadora (Maggie Cheung). O monarca desconfia e discorda. Lá vamos nós, num corte antidialético, contemplar os fatos em versão fria de um azul celestial; tão leve que caminha sobre as águas.
Zhang escolhe a cor branca para indicar a objetividade do conhecimento, mas, com essa dinâmica de alternância rígida, aparenta ser uma caligrafia com uma pretensa “neutralidade” ideológica. No flashback de um tempo mais antigo, um verde claro talvez indique a imaturidade das relações sociais precedentes. Não está muito claro. Do mesmo modo, a cor preta do presente da ficção indica o momento do sacrifício redentor de Sem Nome.
Como conclusão da sátira edificante, os sete reinos se unificam politicamente como o estado chinês da Antiguidade. Por outro lado, Zhang — e sua equipe de cenografia, vestuário e fotografia — deixa Ying Xiong como se fosse uma fragmentação colorida em compartimentos de epistemologia.
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Lista de fantasy feuilleton no subgênero epic fiction:
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