El Candidato Honesto
(comédia,
MEX, 2024)
de Luiz Felipe Ibarra.
(comédia,
MEX, 2024)
de Luiz Felipe Ibarra.
por Paulo Ayres
Entre as consequências da condição extraordinária em El Candidato Honesto, as que interessam ao enredo estão, obviamente, no rumo do país. É compreensível, pois os períodos eleitorais são momentos decisivos na condução de uma nação. Acontece que a transformação mágica que Tona (Adrian Uribe) sofre não é apenas uma honestidade forçada no seu aspecto de homem político, mas uma sinceridade desconcertante nas variadas esferas da sua vida cotidiana. Não poupa nem a amante dos comentários insensíveis. Curiosamente, no momento em que sua moralidade atinge um provável nirvana ético, ele observa uma foto da sua família, como se fosse um santinho. Não um santinho político, de papel, do período eleitoral, mas um tipo de conversão familista. El Candidato Honesto espelha contradições da democracia burguesa, propondo um renascimento em patamares mais humildes de engajamento e tendo um núcleo familiar como um porto seguro.
Em um dos seus arroubos sinceros, Tona diz a frase — repetida numa televisão para ser guardada bem — que se não fosse tantos roubos, o México poderia ser uma Dinamarca. Personagens apresentarem essa visão não tem problema, até porque é algo, mutatis mutandis, bastante disseminado por regiões do mundo. O ponto fundamental é se o desenvolvimento do filme, de certa forma, corrobora com essa simplificação. As lições de moral indicam que sim. Há até uma jornalista, Diana (Teresa Ruiz), ajudando Tona como se fosse uma missão de cidadania. Em determinado momento, ela se apresenta como uma femme fatale de fachada, da mesma forma que El Candidato Honesto mostra bastidores numa superfície. A comédia mágica é até ousada no seu movimento de afastamento crítico e contato com a base periférica, mas faz um recuo tático para se organizar melhor e retornar limpamente ao jogo. É a velha ideia unilateral, atualizada pela politologia, da corrupção como um mal estranho deixando meio convalescente o “corpo político” da sociedade.
A obra se trata de um intercâmbio cultural de países latino-americanos. A comédia mexicana é uma adaptação da comédia brasileira O Candidato Honesto (2014), de Roberto Santucci. Contudo, essa última é uma variação da comédia americana Liar Liar (1997), de Tom Shadyac. Troca-se o comportamento performático de um ambiente jurídico pelo ambiente político em tempo de eleições. Quem joga a maldição em Tona é sua própria avó antes de falecer. E o fantasma da idosa até retorna na sátira edificante por intermédio de um guru. Entre o debate presidencial de PTTT e PIP, El Candidato Honesto ergue a bandeira moralista como uma terceira via de solução deveras abstrata.
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