por Paulo Ayres
Como Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro parte de premissas muito simples, é necessário observar atentamente os desdobramentos e a conclusão. As premissas do projeto estão escancaradas: uma (semi) paródia dos caça-fantasmas dos Estados Unidos (1984–) e fazer uma comédia com horror corporal que utiliza litros e litros de sangue no enredo. Acrescente a isso certa pressa de entrar logo no assunto e no colégio mal-assombrado e, à primeira vista, o filme pode parecer apenas mais um exercício OK que rearranja clichês rumo ao final resolutivo. Entretanto, observando outros temas de fundo na questão do fantasma da loirinha, a sátira cresce em espelhamento da realidade objetiva.
Diferente de Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017), comédia anterior da parceria entre a produção de Danilo Gentili e o diretor Fabrício Bittar, Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro tem mais camadas e necessita de um olhar mais ativo para procurar o real em meio à extrapolação fantasiosa. A indicação orientadora, ademais, está na banalidade profissional do grupo de protagonistas: são youtubers fracassados e com a má fama de charlatões que caçam likes e monetização. Em sintonia com o mundo contemporâneo de proliferação de influenciadores digitais, a comédia sobrenatural ilumina essa área de lazer e de mercado, que tem dinâmicas próprias como: ascensão meteórica, click bait, reagindo às reações, canal decadente etc. No caso dos chamados Caça-Assombrações, são três influenciadores — Jack (Gentili), Fred (Léo Lins) e Caroline (Dani Calabresa) — e um cinegrafista e membro deslocado, Túlio (Murilo Couto) — apesar desse último ser sobrinho de um açougueiro (Ratinho) que é o dono do local onde vivem.
O palco da trama é a Escola Isaac Newton — no filme anterior era a Escola Albert Einstein. Depois de um abaixo-assinado feito pelo aluno Daniel (Matheus Ueta), o Diretor Nogueira (Sikeira Jr.) contrata os influenciadores que, na reta final, adotarão o nome de Exterminadores do Além — sem Caroline, que perde a cabeça durante o procedimento. Presos na escuridão fantasmagórica bem servida de fotografia e recursos visuais, uma série de possessões deixa o ser sobrenatural diversificado e tangível para o espetáculo gore, que até tem uma predominância sanguinolenta, mas também movimenta de forma viscosa, entre outras coisas, um cordão umbilical e uma merda saída do vaso sanitário. Esses são alguns elementos de superfície que batem ponto na comédia fantasiosa, mas não constituem o núcleo essencial do reflexo estético. A dose moderada de metalinguagem também funciona como piadas de curto alcance falando, por exemplo, que há uma aparência de filme de terror e, também, com referências da cultura pop, como a novela brasileira Carrossel (2012–2013). Por outro lado, quando o assunto em questão é o próprio negócio nas redes sociais e as contradições do ambiente escolar, o conteúdo paralelo assume a dianteira. Oferece mais concretude que o problema fantasmagórico, embora esse último seja como uma cortina de fumaça clichê e necessária.
É claro que para que essa leitura se afirme é necessário considerar o desfecho, que ironiza a fama e subcelebridades, como o verdadeiro final. São os créditos finais com o trio de Exterminadores do Além em entrevistas em vários programas televisivos reais. Também indica que uma linha de má reputação persiste em meio aos elogios, e cresce, mudando a visão predominante sobre eles. Na variação da imprensa e de comentadores, é uma linha de heróis e gente cool para picaretas e perigosos. Ou seja, o filme ganha em complexidade se não ver isso apenas como um epílogo engraçadinho — que até existe, mas depois dos créditos finais. É uma conclusão aberta que reflete como ninguém agrada todo mundo, especialmente nesse meio, e que variações de opiniões e de tendências mudam o foco dos chamados quinze minutos de fama.
A própria história da aluna fantasma, a Loira do Banheiro (Pietra Quintela), recebe um giro de flashbacks. A primeira versão é de uma grande vítima de bullying escolar . Outra versão que pretende corrigir essa é que era uma sociopata invejosa. O que mais importa em Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro é que a vitória sobre o espelho amaldiçoado não se petrifica na comemoração e no rebranding do negócio. Considerando o que vem depois como o final real, presencia-se uma sátira realista.
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Lista de fantasy comedy no subgênero supernatural fiction:
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